O cinema tem uma fascinação duradoura por cultos, mergulhando nas complexidades da manipulação psicológica e da fé cega. O filme “A Seita” (A Sacrifice), dirigido por Jordan Scott e estrelado por Eric Bana e Sadie Sink, tenta explorar esse terreno, mas seu final, embora dramático, gerou discussões e críticas pela forma apressada como resolveu algumas de suas tramas.
Lançado nos Estados Unidos em 2024, o thriller psicológico, uma coprodução entre Alemanha e Estados Unidos, é uma adaptação do romance “Tokyo”, de Nicholas Hogg, e chegou recentemente ao catálogo da HBO Max Brasil.
Para muitos espectadores que acompanharam a jornada de Ben Monroe e sua filha Mazzy, o final de “A Seita” pode ter deixado perguntas. Afinal, o que aconteceu com a carismática, porém perigosa, líder Hilma? Mazzy conseguiu escapar da influência do culto ambientalista? E qual foi o verdadeiro papel de Nina, a perfiladora criminal?
Final explicado do filme A Seita
Um psicólogo e sua filha no coração de uma seita
A trama de “A Seita” nos introduz a Ben Monroe (Eric Bana), um psicólogo social americano que reside em Berlim, onde leciona e dedica-se a escrever um livro sobre cultos e o poder da consciência coletiva. Sua pesquisa o leva a investigar casos de suicídio em massa envolvendo membros de seitas, como o chocante incidente de pessoas que ingeriram cianeto e foram metodicamente dispostas no chão. É nesse contexto que ele conhece Nina (Sylvia Hoeks), uma perfiladora criminal que, sem que Ben soubesse, seria uma peça fundamental na complexa teia que o aguardava.
A vida de Ben ganha um novo contorno com a chegada de sua filha adolescente, Mazzy (Sadie Sink), a Berlim para morar com ele por um semestre. A relação entre pai e filha é tensa, marcada por um divórcio recente e um evento traumático do passado: Mazzy quase se afogou quando criança, e Ben, paralisado pelo medo, não conseguiu salvá-la, um ato de heroísmo que coube à sua ex-mulher. Mazzy carrega o ressentimento e a crença de que esse incidente foi a verdadeira causa da separação de seus pais.
É nesse momento de vulnerabilidade que Mazzy encontra Martin (Jonas Dassler) na estação de trem. O que parece ser um encontro casual é, na verdade, uma peça cuidadosamente orquestrada do plano de Hilma (Sophie Rois), a enigmática líder de uma seita ambientalista. Martin, um membro leal, tem a missão de recrutar Mazzy para o grupo, um “ONG ambiental” que ele chama de sua família.
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O credo sombrio de Hilma: sacrifício pela “Mãe Terra”
O culto de Hilma, disfarçado de grupo de ativismo ambiental, propaga uma ideologia perigosa: a crença de que a única forma de salvar o planeta, que está sendo destruído pela humanidade, é através do sacrifício individual.
Para eles, “abrir mão do indivíduo é sempre garantir que o grupo seja alimentado. Uma pessoa solitária não é nada. O grupo é tudo. Sacrifício é redenção. Da morte vem a vida”. Essa filosofia extremista leva seus seguidores à autoimolação e ao suicídio, visto como uma forma de “dar de volta para reabastecer e curar a terra”.
A seita de Hilma emprega táticas típicas de manipulação, como o “love bombing” e a degradação de vítimas emocionalmente ou mentalmente suscetíveis. Eles buscam indivíduos vulneráveis, utilizando suas crenças éticas e morais para controlá-los e afastá-los de suas famílias, um ardil clássico de líderes de culto. Lotte, uma jovem que Ben entrevistou no início do filme, foi uma dessas vítimas, recrutada por Martin e levada ao suicídio por afogamento no lago, sob as instruções de Hilma.
O grande plano de Hilma: por que Ben Monroe era o alvo?
A verdade por trás de toda a orquestração se revela gradualmente: o grande plano de Hilma era recrutar Ben Monroe. Hilma acreditava que o conhecimento e a influência de Ben, advindos de seu livro sobre o poder do “pensamento de grupo” e a importância da comunidade, poderiam levar o culto ao reconhecimento global e atrair mais seguidores.
Para alcançar Ben, Hilma arquitetou cada movimento. Martin não conheceu Mazzy por acaso na estação de trem; Hilma havia enviado uma foto da garota a Martin, obtida através de um contato que sabia da chegada de Mazzy. Mas a reviravolta mais surpreendente veio com a revelação do papel de Nina.
A perfiladora criminal que se aproximou de Ben, desenvolvendo um relacionamento íntimo com ele, era, na verdade, uma cúmplice de Hilma. Nina fora entregue ao culto ainda adolescente por seus próprios pais, que cometeram suicídio “pelo bem maior” do grupo, e desde então servia Hilma, buscando se aproximar de Ben para levá-lo à seita.
Quando Mazzy, após uma noite de bebedeira e drogas em uma boate, é levada semi-inconsciente ao centro do culto por Martin, Hilma decide acelerar seus planos. Mazzy, que inicialmente mostra-se receptiva à mensagem da seita, logo tenta rebelar-se ao perceber a estranheza das ações do grupo. Ela é sedada e Hilma ordena a um relutante Martin que a leve ao lago para ser a próxima vítima de sacrifício, assim como Lotte.
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O resgate dramático e o preço da lealdade
Ben, percebendo o desaparecimento da filha e reunindo as peças do quebra-cabeça após uma pista de Nina — que, sob as ordens de Hilma, o direciona ao centro do culto — corre contra o tempo.
Durante o confronto com Hilma, uma frase proferida pela líder faz Ben ligar os pontos com as palavras de Lotte durante suas entrevistas, revelando a ele a identidade da vítima e o local do possível sacrifício de Mazzy: o lago.
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Mazzy à beira do abismo: o reencontro no lago
Ben se apressa para o lago com a ajuda de Max, seu colega, e da polícia. Ele chega a tempo de ver Mazzy flutuando na água, prestes a afundar. Impulsionado pela culpa do passado, Ben mergulha na água e resgata sua filha.
Este ato de salvamento não só tira Mazzy das garras da morte e do culto, mas também representa a redenção de Ben por não ter conseguido salvá-la quando criança. Mazzy, em um estado de intoxicação e delírio, chega a alucinar Lotte na água, que a convida a entrar, simbolizando a solidão esmagadora e o desespero que a empurravam para a morte.
O fim de Nina e a fuga de Hilma: uma conclusão aberta?
Enquanto Ben corre para o lago, no centro do culto, Hilma instiga Nina a provar sua lealdade. Nina, junto com os outros membros do grupo, veste trajes cerimoniais, coloca conchas marinhas na boca e mancha o rosto com cinzas, antes de se encharcar com gasolina e atear fogo em si mesma, em um ato de autoimolação. Todo o centro do culto é consumido pelas chamas, mas Hilma consegue escapar, ilesa, da conflagração.
O destino de Martin: um coração dividido
Martin, o jovem que recrutou Mazzy e Lotte, revela um lado mais complexo. Após deixar Mazzy inconsciente na margem do lago, ele retorna ao seu apartamento. Lá, a câmera revela um corpo em decomposição no chão da sala: o de sua avó, sua única família, que ele nunca moveu após sua morte. Desolado e em conflito, Martin deita-se ao lado dela e ingere uma pílula de cianeto, encontrando seu próprio fim.
A semente do culto: Hilma ainda à solta e novas vítimas?
Apesar do resgate de Mazzy e da morte da maioria dos membros do culto, o final de “A Seita” deixa uma sensação de ameaça persistente. Hilma, a líder, escapa da justiça, e seu paradeiro é desconhecido.
A cena final do filme é particularmente perturbadora: Elsa, a filha do colega de Ben, Max, é vista assistindo a um vídeo de Hilma pregando sua mensagem online, hipnotizada da mesma forma que Mazzy estava no início. Isso sugere que o culto de Hilma, embora desmantelado em parte, pode ressurgir, e Elsa se apresenta como uma potencial nova vítima da líder manipuladora.
O filme, portanto, conclui sem uma resolução completa, indicando que a ideologia do culto e a capacidade de Hilma de atrair vulneráveis permanecem uma ameaça latente. Ben e Mazzy podem ter escapado fisicamente, mas a semente da manipulação ainda flutua no ar, pronta para infectar novas populações, uma espécie de “profecia sobre como este sabor particular de pensamento de grupo vai infetar inúmeras populações em vagas ao longo do tempo, à medida que as coisas pioram”.
Crítica de A Seita: um thriller que deixou a desejar?
“A Seita” é um thriller que, apesar de uma estética polida e uma premissa interessante, se perde em um roteiro confuso e superficial. A direção de Jordan Scott, embora visualmente competente, não consegue compensar a falta de substância da história. O filme falha em ser um suspense eficaz e também em explorar de forma aprofundada as ideias que apresenta.
É uma obra que, no final das contas, dificilmente será lembrada por muito tempo. Além disso, serve como um triste exemplo de como um tema promissor pode ser desperdiçado em uma execução descuidada e irresponsável.
Onde assistir ao filme A Seita?
O filme está disponível para assistir na HBO Max.
Assista ao trailer de A Seita (2025)
Quem está no elenco de A Seita, da HBO Max?
- Sira-Anna Faal
- Eric Bana
- Sadie Sink
- Sylvia Hoeks
- Jonas Dassler
- Sophie Rois
- Stephan Kampwirth
- Justine del Corte
- Joone Dankou
- Lara Feith