Wilson Spiler23/10/20243 Mins de Leitura127 Visualizações
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“Grotesquerie” é a mais recente série de Ryan Murphy, conhecido por misturar temas perturbadores com uma pitada de exagero teatral. Combinando massacre em larga escala, simbolismo religioso e uma investigação conduzida por uma detetive cansada da vida, a série promete um mergulho sombrio em um mundo de desespero e violência.
No entanto, apesar de sua familiaridade com o universo de horror de Murphy, “Grotesquerie” surpreende ao trazer um tom mais melancólico e reflexivo, sem perder a intensidade que o caracteriza.
“Grotesquerie” começa com Lois Tryon (Niecy Nash), uma detetive experiente, sendo chamada para investigar um massacre terrível: uma família inteira brutalmente assassinada em uma cena ritualística de puro horror.
À medida que mais assassinatos com temas religiosos acontecem, Lois percebe que há algo muito maior por trás desses crimes. Para auxiliá-la, entra em cena a freira jornalista, Sister Megan (Micaela Diamond), que traz insights sobre o fanatismo religioso e a ligação entre os assassinatos e uma visão apocalíptica da sociedade.
Com o avanço da investigação, Lois também enfrenta seus próprios demônios, incluindo o alcoolismo e a complexa relação com sua filha Merritt e seu marido em coma, Marshall (Courtney B. Vance).
Ryan Murphy é conhecido por explorar o grotesco e o exagerado em suas narrativas, e “Grotesquerie” não foge dessa fórmula. No entanto, ao contrário de outras obras dele, aqui há uma tentativa de mergulhar mais fundo em questões existenciais e filosóficas.
Os primeiros episódios oferecem uma visão de um mundo em colapso moral e social, com crimes que mais parecem manifestações de uma teologia sombria. O uso de temas religiosos, como a exploração da culpa e da redenção, dá um toque pesado à narrativa, que pode ser tanto instigante quanto cansativa.
Niecy Nash
O grande trunfo da série é, sem dúvida, Niecy Nash. Conhecida por seu talento cômico, a atriz entrega uma performance intensa e sombria como a detetive Lois.
Sua personagem é complexa, uma mulher quebrada, mas ainda funcional, que tenta equilibrar sua vida pessoal destruída com a urgência de resolver os crimes brutais. As interações entre Lois e Sister Megan trazem momentos interessantes, especialmente quando se trata de discutir fé e moralidade.
Fotografia x diálogos
A fotografia, sombria e cheia de cenas visualmente perturbadoras, complementa a atmosfera de horror. No entanto, a série, em alguns momentos, não confia totalmente na força de suas imagens e acaba caindo em diálogos expositivos que subestimam a inteligência do espectador.
A figura da enfermeira Nurse Redd (Lesley Manville) também oferece um contraste macabro e perturbador nas cenas mais pessoais da vida de Lois.
Com uma combinação de horror, filosofia e uma excelente performance de Niecy Nash, “Grotesquerie” começa de maneira promissora. Embora a série tenda a se perder em seus exageros e simbolismos, os primeiros episódios oferecem o suficiente para deixar o público curioso sobre o desenvolvimento da trama.
É cedo para dizer se a série conseguirá manter o ritmo e a profundidade prometidos, mas certamente vale a pena acompanhar, nem que seja para ver Nash brilhar em um papel tão distinto de seus trabalhos anteriores.
Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.