Crítica do primeiro episódio 1 de It Bem-Vindos a Derry (2025), da HBO e HBO Max - Flixlândia

[CRÍTICA] Primeiro episódio de ‘It: Bem-Vindos a Derry’ subverte a nostalgia e resgata a crueldade de Stephen King

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A cidade de Derry, no Maine, sob a direção artística de Andy Muschietti, nunca foi um lugar de conforto, mas a nova série prequela da HBO, It: Bem-Vindos a Derry, não apenas nos devolve ao palco da tragédia de Stephen King: ela nos atira em seu abismo.

Ambientada em 1962, 27 anos antes do primeiro grande confronto do “Clube dos Perdedores”, a produção se estabelece imediatamente como uma obra de terror visceral, que se recusa a pisar em ovos e que encontra na podridão social e na apatia humana a verdadeira essência de seu monstro.

Longe de ser uma mera expansão nostálgica, o episódio piloto é um manifesto sangrento que promete uma jornada de horror psicológico e social tão densa quanto a obra literária original.

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Sinopse do episódio piloto

O tom impiedoso da série é definido na cena inicial, quando o jovem Matty Clements (Miles Ekhardt) tenta, desesperadamente, deixar Derry e se depara com uma manifestação grotesca da Coisa. O que se segue é um espetáculo de body horror estranho, culminando no “parto” de um bebê alado e disforme que ceifa a vida de Matty, enviando sua chupeta para o esgoto em um prenúncio sombrio de Pennywise.

Quatro meses depois, o desaparecimento do garoto atrai a atenção de um novo grupo de jovens marginalizados, os protagonistas da primeira hora: Lilly Bainbridge (“Loony” Lilly), assombrada pelo luto e um período em um sanatório; Teddy Uris, o jovem racional de uma família judaica com um pai rabino severo; e Phil Malkin, o obcecado por conspirações, acompanhado de sua irmã caçula, Susie. Enquanto investigam, são confrontados por visões perturbadoras da Coisa, que se manifesta de formas inusitadas — como um abajur feito de rostos de vítimas de campos de concentração e dedos ensanguentados emergindo de ralos.

A investigação culmina em um brutal ataque no Capitol Theater, onde a criatura-bebê atravessa a tela para massacrar o grupo. Em um ato de subversão chocante, Teddy, Phil e Susie são aparentemente eliminados, restando apenas Lilly, segurando o braço decepado de Susie, e Ronnie Grogan, filha do projecionista, como as únicas sobreviventes do massacre.

Paralelamente, o piloto introduz o Major Leroy Hanlon (Jovan Adepo), um veterano negro da Guerra da Coreia, que chega à base da Força Aérea de Derry e imediatamente se depara com o racismo explícito da década de 1960 e um mistério militar que se conecta à presença maléfica da cidade.

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Crítica

O maior acerto narrativo e, sem dúvida, o momento mais chocante do episódio piloto é a audaciosa decisão de aniquilar o trio de protagonistas mirins no clímax. Ao investir tempo na construção de laços e traumas em Lilly, Teddy e Phil para, em seguida, desmembrá-los brutalmente, It: Bem-Vindos a Derry se desliga da fórmula de conforto do terror infanto-juvenil popularizada por produções como Stranger Things ou até mesmo pelos filmes anteriores de It: A Coisa.

Essa jogada é um ato de subversão genuína. O roteiro de Jason Fuchs reitera uma verdade brutal do universo de King que nem sempre foi totalmente traduzida para o cinema: em Derry, a inocência não é um escudo, e ninguém está a salvo. O público é forçado a abandonar qualquer expectativa de segurança e a se reconectar com a vulnerabilidade central das crianças que enfrentam o Mal com “M” maiúsculo. A série se torna imprevisível no momento em que a previsibilidade do gênero é mais esperada.

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O retrato brutal da intolerância e do preconceito

Se Pennywise é o monstro cósmico, a série se dedica a demonstrar que o verdadeiro terror é alimentado pela intolerância e pela apatia humana. O racismo da década de 1960 em Derry não é um mero pano de fundo; é um fio narrativo central. A chegada do Major Leroy Hanlon, uma das poucas figuras negras da cidade, coloca em foco a hostilidade e a segregação que fornecem o terreno fértil para a Coisa.

O episódio faz um aceno direto ao evento do Black Spot, um ponto crucial na mitologia do livro, e mostra que o Mal prospera não apenas do medo, mas da cumplicidade silenciosa da comunidade. A indiferença dos adultos diante da violência e dos desaparecimentos — a esposa de Leroy, Charlotte, chega a testemunhar um espancamento na rua sem que ninguém intervenha — torna Derry um ambiente pré-condicionado para o horror. A Coisa é o reflexo, a materialização da podridão moral da cidade, conferindo uma profundidade temática que eleva a série além do gore e do susto fácil.

Crítica do primeiro 1 episódio de It Bem-Vindos a Derry (2025), da HBO e HBO Max - Flixlândia (1)
Foto: Divulgação / HBO

O horror maleável e instintivo

A produção acerta brilhantemente ao reter Pennywise em sua forma mais icônica, preferindo explorar a maleabilidade da Coisa através de novas e originais manifestações. A cena de abertura, com o “parto demoníaco” no carro, é um espetáculo de body horror estranho e memorável.

O bebê alado e grotesco, o abajur feito de rostos costurados de vítimas de Buchenwald, e os dedos ensanguentados que emergem do ralo da pia de Lilly são exemplos de um horror instintivo que dialoga diretamente com os traumas mais profundos dos personagens (o Holocausto na história da família de Teddy, a tragédia familiar de Lilly).

Essa estratégia de manter o palhaço maligno oculto e de permitir que o mal se manifeste de qualquer forma eleva a tensão, sugerindo que o horror é um miasma onipresente, um parasita que se alimenta das fragilidades humanas e que torna a ameaça ainda mais imprevisível e multifacetada. A abordagem é mais próxima da ideia de que “O Mal é a própria Derry” do que de um simples palhaço com dentes afiados.

Conclusão

It: Bem-Vindos a Derry se estabelece, em seu episódio piloto, como uma prequela ambiciosa, brutal e eficaz. É um dos inícios de série de terror mais fortes do ano, combinando gore de alto nível, sustos viscerais e uma camada de crítica social que honra a densidade do material de Stephen King.

Embora o núcleo de adultos e a intriga militar (o mistério do B-52 e a base da Força Aérea) ainda pareçam ligeiramente desconexos do terror infantil, o final sangrento e inesperado no cinema garante que a série tem coragem para desafiar as expectativas e o público. O verdadeiro acerto está em despir Derry de qualquer vestígio de nostalgia, apresentando-a como um lugar onde o medo e o ódio são a verdadeira herança.

Resta saber se Lilly e Ronnie, as últimas sobreviventes da primeira hora, terão a força de espírito para enfrentar o horror que se manifesta a cada 27 anos. A aposta de Muschietti e Fuchs é alta, e o resultado inicial é inegavelmente impactante.

Onde assistir à série It: Bem-Vindos a Derry?

A série “It: Bem-Vindos a Derry” está disponível para assistir na HBO e na HBO Max.

Veja o trailer de It: Bem-Vindos a Derry (2025)

YouTube player

Quem está no elenco de It: Bem-Vindos a Derry, da HBO?

  • Mikkal Karim Fidler
  • Bill Skarsgård
  • Joshua Odjick
  • Jack Molloy Legault
  • Amanda Christine
  • Jovan Adepo
  • Clara Stack
  • Miles Ekhardt
Escrito por
Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

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