Jay Kelly resenha crítica do filme Netflix 2025 Flixlândia

[CRÍTICA] George Clooney e a crise de identidade em ‘Jay Kelly’

Foto: Netflix / Divulgação
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O cinema adora falar sobre si mesmo, e quando você junta um diretor autoral como Noah Baumbach (História de um Casamento) com lendas como George Clooney e Adam Sandler, a expectativa vai lá no teto. “Jay Kelly”, que chega ao catálogo da Netflix, é exatamente essa aposta de peso: uma obra que transpira prestígio e cheiro de temporada de premiações. No papel, é um home run; na tela, é uma criatura curiosa, por vezes fascinante e, em outros momentos, estranhamente desconexa.

É um filme meta, quase um espelho distorcido da realidade, onde Clooney interpreta uma versão alternativa de si mesmo — um astro amado pelo público, herdeiro do carisma da velha guarda, mas que por dentro questiona se existe algo além do personagem que ele finge ser há décadas.

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Sinopse

Conhecemos Jay Kelly (George Clooney) em seu habitat natural: um set de filmagem, “morrendo” em uma cena dramática. Mas a verdadeira crise começa quando as câmeras desligam. Jay é um ator veterano que viveu tanto tempo sob os holofotes que sua identidade pessoal foi engolida pela sua persona pública. Ele descobre que seu antigo mentor e diretor, Peter Schneider, faleceu, e ao mesmo tempo percebe que sua filha mais nova, Daisy (Grace Edwards), está prestes a partir para uma viagem pela Europa, preferindo a companhia dos amigos à do pai ausente.

Movido por um impulso (e talvez pelo medo da mortalidade), Jay decide seguir a filha até Paris e depois para a Itália, onde ele deve receber um prêmio por sua carreira em um festival de cinema. Ele não vai sozinho, claro. A reboque vai seu fiel séquito: Ron Sukenick (Adam Sandler), seu empresário devoto; Liz (Laura Dern), sua publicista; e Phoebe (Emily Mortimer), sua cabeleireira pessoal. O que deveria ser uma viagem de glória torna-se uma jornada de acerto de contas com o passado, incluindo reencontros tensos com velhos amigos e memórias de relacionamentos negligenciados.

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Resenha crítica do filme Jay Kelly

A desconstrução do ídolo (e de George Clooney)

O grande trunfo e, ironicamente, a maior armadilha do filme é a escalação de George Clooney. Jay Kelly é um homem que não consegue andar na rua sem ser assediado, alguém que troca o convívio familiar pela adoração de estranhos. Clooney traz seu charme habitual, aquele sorriso de megawatt, mas aqui ele o utiliza como uma máscara. O filme sugere que Jay é um homem de alma vazia, cujas memórias são, na verdade, cenas de filmes.

É uma performance vulnerável. Vemos um Jay inseguro, que precisa pintar as sobrancelhas com uma caneta Sharpie para parecer mais jovem e que, apesar de estar cercado de gente, está perpetuamente sozinho. A proposta de Baumbach é despir o mito, mostrando que por trás do glamour existe um homem que sacrificou filhas e amigos reais por uma aprovação efêmera.

No entanto, o filme às vezes luta para nos fazer sentir pena de um homem que tem tudo. É aquele velho problema de “problemas de gente rica e famosa” que pode soar um pouco como um “ai de mim” exagerado para o espectador comum.

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Foto: Netflix / Divulgação

Adam Sandler: o coração pulsante do filme

Se Clooney é a face do filme, Adam Sandler é a alma. Interpretando Ron, o empresário que está ao lado de Jay há 30 anos, Sandler entrega uma atuação contida e devastadora, lembrando seus melhores momentos em Joias Brutas ou Os Meyerowitz. Ron é a antítese de Jay: um homem de família (com uma esposa vivida por Greta Gerwig) que se anulou para servir ao astro.

A dinâmica entre os dois é fascinante e dolorosa. Ron ama Jay, talvez até mais do que ama a si mesmo, mas existe sempre aquela barreira invisível: Ron fica com 15% do que Jay ganha. É uma amizade? É um emprego? Sandler captura perfeitamente a exaustão de viver à sombra de outra pessoa, absorvendo os estilhaços emocionais de Jay enquanto tenta equilibrar sua própria vida pessoal pelo telefone. É Ron quem humaniza a narrativa, servindo como a âncora emocional quando a trama de Jay ameaça flutuar para longe na autoindulência.

Uma narrativa entre o sonho e a confusão

“Jay Kelly” tenta evocar clássicos como de Fellini ou O Jogador de Altman, misturando realidade, flashbacks e delírios. Há momentos brilhantes, como a sequência no trem pela Europa, onde o passado e o presente se colidem literalmente ao abrir de portas. Baumbach e a corroteirista Emily Mortimer tentam costurar memórias de audições passadas — incluindo uma cena roubada por Billy Crudup como Timothy, o amigo que Jay traiu para conseguir seu grande papel — com a correria do presente.

No entanto, o filme oscila muito. Por vezes, parece um diário de viagem desconexo; em outras, um drama profundo sobre arrependimento. Alguns personagens coadjuvantes, apesar de interpretados por atores incríveis como Laura Dern e Patrick Wilson, parecem subutilizados, existindo apenas como satélites na órbita do ego de Jay. A montagem nem sempre ajuda, criando um ritmo que vai do frenético ao contemplativo de forma abrupta, deixando a sensação de que o filme, assim como seu protagonista, está passando por uma crise de identidade.

Conclusão

“Jay Kelly” é um filme imperfeito sobre pessoas imperfeitas. Não é o melhor trabalho de Noah Baumbach, faltando-lhe a precisão cirúrgica de História de um Casamento, e pode parecer calculado demais em sua tentativa de ser “importante”. Contudo, é inegavelmente assistível. Há um charme antiquado na produção, uma beleza na cinematografia e, acima de tudo, atuações que valem o ingresso (ou a assinatura).

George Clooney entrega talvez seu papel mais metalinguístico e triste, mas é Adam Sandler quem você vai querer abraçar no final. É uma obra que reflete sobre o custo da ambição e como, no fim das contas, nossas identidades são apenas um amontoado de memórias — sejam elas reais ou roteirizadas. Se você gosta de filmes que exploram os bastidores da fama com uma dose de melancolia e outra de cinismo, “Jay Kelly” merece o play, mesmo que você precise ajustar suas expectativas.

Onde assistir ao filme Jay Kelly?

Trailer de Jay Kelly (2025)

YouTube player

Elenco de Jay Kelly, da Netflix

  • George Clooney
  • Adam Sandler
  • Laura Dern
  • Billy Crudup
  • Riley Keough
  • Grace Edwards
  • Stacy Keach
  • Jim Broadbent
  • Patrick Wilson
  • Eve Hewson
Escrito por
Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

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