“June e John”, novo filme de Luc Besson, chegou aos cinemas prometendo um respiro poético em meio à rotina cinzenta da vida adulta. Gravado inteiramente com smartphones durante a pandemia, o longa-metragem se apresenta como uma tentativa ousada do diretor francês de revisitar suas raízes autorais, abraçando limitações técnicas e apostando na emoção crua do improviso visual.
Com dois protagonistas relativamente desconhecidos — Luke Stanton Eddy e Matilda Price —, a produção propõe um conto de amor explosivo entre opostos: ele, passivo e frustrado com a vida; ela, vibrante e imprevisível como uma força da natureza. O resultado, no entanto, está longe de ser consenso.
Misturando road movie, fábula urbana e delírios existenciais, “June e John” oscila entre momentos de delicadeza e um acúmulo de lugares-comuns que questionam até onde vai a liberdade criativa e onde começa o esvaziamento narrativo.
Sinopse de June e John (2025)
John é um homem comum. Mais do que isso: é a própria definição da mediocridade cotidiana. Sem grandes ambições, sem coragem para mudanças, afunda-se em dias repetitivos, até que um encontro aparentemente fortuito no metrô muda tudo.
June surge como uma visão: bela, misteriosa e encantadoramente caótica. Ela o convida para viver 72 horas intensas, como se não houvesse amanhã. Com isso, começa uma jornada de descobertas, fugas, confrontos com a morte e uma paixão arrebatadora que desafia as convenções.
Aos poucos, a realidade se dissolve em poesia, e o filme mergulha num universo onde sonhos, alucinações e utopias se entrelaçam. Resta ao espectador decidir se acompanhá-los nessa viagem vale o risco.
➡️ ‘O Último Respiro’ assusta mais pela realidade do que pela ficção

Crítica do filme June e John
Gravar com celulares em plena pandemia pode soar como ato de resistência criativa, e de fato é. A textura granulada e o enquadramento instável de “June e John” criam uma atmosfera caseira e, por vezes, íntima. No entanto, essa opção técnica nem sempre sustenta o longa, especialmente quando a proposta parece pedir algo mais onírico do que rudimentar.
Ao contrário de obras como “Tangerina” ou “Distúrbio”, que extraem sentido narrativo dessa estética marginal, o filme de Besson parece utilizar a limitação como desculpa, sem explorar sua potência poética de fato. Resultado: uma produção que às vezes parece mais caseira do que autoral.
➡️ ‘Nossos Tempos’ é sci-fi romântico que se perde no tempo e no roteiro
A força do casal e o tropeço dos arquétipos
Matilda Price é, de longe, o maior trunfo do filme. Sua June é magnética, imprevisível e hipnotiza tanto o protagonista quanto o público. Ainda que se encaixe facilmente no estereótipo da “manic pixie dream girl”, há uma entrega corporal e emocional da atriz que dá alguma complexidade à personagem. Luke Stanton Eddy, por sua vez, interpreta John de forma eficiente, embora sua caricatura do “homem perdido” não traga nenhuma novidade.
O problema é que o roteiro pouco faz para subverter ou aprofundar esses arquétipos. O casal funciona, mas dentro de um limite bastante estreito: ele é o tédio, ela é a fuga. E isso é tudo. A relação dos dois avança aos tropeços, em meio a frases de efeito, cenas absurdas e momentos que se pretendem metafísicos, mas soam como slogans motivacionais.
➡️ ‘Sikandar’, quando a ação encontra o sentido da vida
O roteiro: entre devaneios, clichês e boas intenções
É inegável que Luc Besson tenta entregar algo sincero. “June e John” busca provocar uma reflexão sobre o medo de viver, o impulso do amor e o peso das escolhas. No entanto, essa tentativa é atravessada por diálogos forçados e uma sucessão de cenas que beiram o paródico.
Frases como “Você é um balão de ar quente preso ao chão” ou “O futuro é um lugar onde tudo é possível” são ditas com seriedade desconcertante, sem nenhum distanciamento irônico que justifique seu uso. Tudo soa excessivamente literal, como se o filme não confiasse na inteligência do espectador.
Além disso, a estrutura narrativa é rígida, dividida em três blocos claros demais: o tédio, a fuga e a ruptura. Essa rigidez tira a fluidez da história e entrega uma obra que, embora curta, parece longa pela repetição e previsibilidade dos eventos.
Uma homenagem involuntária aos clichês do road movie indie
Casar em Las Vegas? Check. Correr na praia ao pôr do sol? Check. Fugir num carro roubado? Check. Não há uma só marca típica do cinema indie romântico norte-americano que não esteja presente em “June e John”. O problema é que, em vez de dialogar com esses clichês de forma consciente, o filme os replica sem filtros.
A personagem de June, com seu espírito livre e frases enigmáticas, remete a Leeloo (de “O Quinto Elemento”) em uma versão mais desbotada. John, por outro lado, parece uma projeção fantasiosa de um protagonista masculino em crise — talvez até do próprio Besson — que espera ser salvo por uma mulher mágica e impulsiva.
Vale a pena ver June e John (2025)?
“June e John” é, antes de tudo, um filme de intenções. Luc Besson tenta voltar às suas raízes autorais com um projeto pequeno, emotivo e desafiador. Há ali o desejo de falar sobre liberdade, amor e renascimento. Mas esse desejo não basta.
O filme derrapa na execução, tropeça em clichês, não define seu tom e acaba preso entre o sonho e a realidade sem saber qual caminho seguir. Ainda assim, há beleza em alguns momentos — e, para parte do público, isso já será suficiente.
Para quem se deixa levar pelo sentimento, pode ser uma experiência leve e até tocante. Para quem espera profundidade e originalidade, “June e John” decepciona. É uma fábula romântica filmada com o coração, mas talvez escrita com pressa — ou com ingenuidade demais.
Siga o Flixlândia nas redes sociais
➡️ Instagram
➡️ Twitter
➡️ TikTok
➡️ YouTube
Onde assistir ao filme June e John?
O filme está disponível para assistir nos cinemas.
Trailer de June e John (2025)
Elenco do filme June e John
- Matilda Price
- Luke Stanton Eddy
- Ryan Shoos
- Dean Testerman
- Sherry Mattson
- Honey Lauren
- Ayanna S. Flemings
- Don Scribner