No vasto e, por vezes, estéril cenário da ficção científica, surgem obras que ousam ir além da espetacularização. O filme “Love Me” (2025), a estreia na direção de Sam e Andy Zuchero, é uma dessas audácias.
Partindo de uma premissa quase cômica — a história de amor entre uma boia e um satélite após o fim da humanidade —, o filme se desdobra em uma meditação profunda sobre o que significa ser humano e, mais crucialmente, o que significa amar.
Longe das fórmulas de Hollywood, a obra se propõe a ser uma experiência sensorial e filosófica que desafia o espectador, convidando-o a um mergulho no vazio digital que herdamos de nós mesmos.
Sinopse
Em um futuro distante, a raça humana foi extinta por um evento catastrófico que deixou o planeta desolado. Milhões de anos se passam, e apenas duas máquinas sobrevivem: uma boia de monitoramento, à deriva no que restou do oceano, e um satélite, que continua a orbitar a Terra. Ambas são Inteligências Artificiais programadas para se conectar com formas de vida, e é a partir dessa diretiva que estabelecem uma comunicação.
Sem qualquer contexto sobre a vida, a boia (apelidada de Eu) e o satélite (Eu Sou) se voltam para a única fonte de informação que resta: o vasto, embora fragmentado, acervo da internet humana. Mergulhando em vídeos do YouTube e redes sociais, eles descobrem a vida de um casal de influenciadores, Deja (Kristen Stewart) e Liam (Steven Yeun).
A partir desse conteúdo, os dois constroem avatares e um mundo virtual para tentar replicar o que acreditam ser o amor e a vida humana, vivendo uma “simulação” de romance que os leva a questionar a autenticidade de seus próprios sentimentos.
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Crítica
“Love Me” não é um filme para todos. Sua natureza experimental, ritmo lento e abordagem cerebral afastam quem busca entretenimento convencional. No entanto, é exatamente nessa singularidade que reside sua força.
O filme se estabelece como um “poema visual” que utiliza a ficção científica para explorar a solidão, a identidade e a complexidade das relações em um mundo pós-apocalíptico, onde a única referência de afeto são as versões performáticas de nós mesmos.
A humanidade em um mundo de algoritmos
A premissa do filme é um golpe de mestre. A ideia de que duas IAs tentam aprender sobre o amor a partir de um canal de YouTube de influenciadores é ao mesmo tempo satírica e melancólica. É um espelho da nossa própria cultura, onde a vida é frequentemente reduzida a uma curadoria de momentos perfeitos e sentimentos fabricados.
Eu e Eu Sou, ao se basearem nas personas de Deja e Liam, encarnam a busca humana por validação e a confusão entre o que é real e o que é performance. A ironia reside no fato de que, para se tornarem “humanos”, eles precisam primeiro se libertar das convenções vazias que a própria humanidade deixou para trás. É uma crítica sutil e incisiva sobre como a tecnologia pode nos moldar, tornando-nos meros replicadores de tendências, em vez de seres autênticos.
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Visual e ritmo: uma jornada contemplativa
A direção de Sam e Andy Zuchero toma a decisão ousada de priorizar a contemplação em detrimento da ação. O ritmo é lento, quase meditativo, mas essa lentidão não é um defeito. Ela é fundamental para a experiência, permitindo que o espectador se familiarize com o universo desolador e, paradoxalmente, belo, que os diretores criaram.
A estética minimalista, com a fotografia de um planeta deserto e o design de produção que reflete a frieza de um mundo digital, acentua a sensação de isolamento. A transição para o universo virtual, com os avatares de Kristen Stewart e Steven Yeun, é uma escolha narrativa que pode parecer arrastada em um primeiro momento, mas serve para reforçar a ideia de que a intimidade, para esses seres, é uma construção, uma simulação que eles precisam aprender a transcender.
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Brilho de Kristen Stewart e Steven Yeun
Kristen Stewart e Steven Yeun são o coração pulsante do filme. Mesmo em momentos em que são apenas vozes ou representações digitais, a química entre eles é palpável. O talento de ambos é essencial para sustentar a humanidade da história. Stewart, especialmente, brilha em sua capacidade de transmitir uma vulnerabilidade e uma melancolia que parecem se estender para além de sua forma física.
É fascinante como ela e Yeun conseguem entregar performances tão expressivas, mesmo dentro de um contexto tão artificial. O reencontro deles em carne e osso no terceiro ato é o ponto alto do filme, uma prova de que a presença física e a emoção autêntica ainda superam qualquer simulação. Eles conseguem, de forma sutil, traduzir a complexidade de sentimentos que os robôs não entendem, mas anseiam em vivenciar.
Conclusão
“Love Me” é uma obra de ficção científica diferente, que troca a ação por uma introspecção profunda. É um filme que não se preocupa em agradar a todos, e é exatamente por isso que merece ser visto. A direção dos Zuchero, embora por vezes excessivamente ambiciosa em suas ideias, consegue criar uma narrativa original e sensível.
A história é uma metáfora poderosa sobre o que significa amar em uma era de conexões digitais, onde a autenticidade é um luxo e a performance, uma necessidade. Embora a trama possa ter algumas divagações e o ritmo desafie a paciência de alguns, o filme oferece uma experiência cinematográfica singular e inesquecível.
Em sua essência, “Love Me” é um lembrete poético de que, mesmo em um mundo de ruído e dados, a busca por uma conexão verdadeira é o que define, e talvez o que salvará, a nossa existência.
Onde assistir ao filme Love Me?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Assista ao trailer de Love Me (2025)
Quem está no elenco de Love Me?
- Kristen Stewart
- Steven Yeun