Em uma cinematografia muitas vezes tímida em homenagear seus grandes artistas ainda em vida, ‘Mauricio de Sousa – O Filme’ surge como um gesto raro de reconhecimento. Dirigido por Pedro Vasconcelos e Rafael Salgado, o longa celebra não apenas o criador da Turma da Mônica, mas também o menino do interior que transformou a curiosidade e o afeto familiar em combustível para um império da imaginação. Com sensibilidade e um olhar afetuoso para o passado, o filme equilibra o tom nostálgico com uma estética que flerta com o lúdico das HQs, traduzindo a própria essência de seu homenageado.
A produção se assume como um “filme-tributo”: mais interessado em emocionar do que em expor controvérsias, mais focado na ternura do gesto do que na precisão histórica. O resultado é uma cinebiografia que prefere o toque da memória à rigidez do fato, e nessa escolha encontra sua força. É o Brasil reencontrando um de seus maiores contadores de histórias, agora dentro da tela que tantas vezes serviu de vitrine para suas criações.
Sinopse
A narrativa acompanha a trajetória de Mauricio desde sua infância no interior paulista, cercado de imaginação e incentivo familiar, até o início de sua carreira como desenhista. A relação com a avó, vivida com delicadeza por Elizabeth Savalla, é o eixo emocional da primeira parte: um refúgio de afeto que define o olhar doce e curioso do futuro artista. A infância, retratada com ritmo calmo e fotografia quente, é mais um mergulho nas origens do que uma tentativa de biografia convencional.
Na fase adulta, Mauro Sousa, filho do próprio Mauricio, assume o papel com uma entrega que impressiona pela semelhança física e pela serenidade na atuação. O filme o acompanha entre sonhos e dilemas: seguir a paixão pelos quadrinhos ou buscar estabilidade financeira para a família. O arco se encerra com a criação dos personagens icônicos que o transformariam em um símbolo da cultura brasileira.
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Crítica
O primeiro grande mérito do filme está em como transforma o cotidiano simples de um menino do interior em poesia visual. A direção de Pedro Vasconcelos valoriza os gestos miúdos: o olhar curioso sobre o trem que corta o campo, o som das máquinas de escrever, o traço tímido ganhando forma no papel. Esses momentos revelam o nascimento da observação afetuosa que definiria o humor e a empatia de suas criações.
A presença dos pais, interpretados com ternura por Emílio Orciollo Neto e Natália Lage, confere à narrativa um tom familiar e íntimo. São personagens que não apenas apoiam, mas moldam o caráter do jovem Mauricio, e o filme entende bem esse vínculo. Cada conselho, cada dúvida, torna-se parte do traço simbólico que mais tarde seria desenhado nas páginas da Turma do Limoeiro.
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O artista em construção
A segunda parte mergulha na fase adulta com uma mistura de entusiasmo e desafio. Mauro Sousa encarna o pai com leveza e uma calma que evita o melodrama. O roteiro de Paulo Cursino prefere sugerir o conflito a explicitá-lo: há insegurança, sim, mas ela é enfrentada com o otimismo que sempre caracterizou o artista. Ainda que o ritmo por vezes vacile, a atuação e o tom emocional compensam eventuais tropeços.
A escolha estética de dividir algumas cenas em quadros e sobreposições é uma homenagem direta à linguagem das HQs. Embora o recurso nem sempre soe orgânico, ele reforça o espírito da narrativa: estamos vendo uma vida contada como uma história em quadrinhos. Essa proposta visual, combinada à fotografia de Luciano Xavier e ao figurino de época, dá à produção um charme artesanal que aproxima o público do universo de Mauricio.

A herança do riso
O elenco de apoio é fundamental para sustentar o afeto que o filme busca transmitir. Elizabeth Savalla brilha como Vó Dita, figura que representa a sabedoria e a fé que orientam o protagonista. Sua despedida é um dos momentos mais comoventes, conduzido com delicadeza e sem apelar à lágrima fácil. Já Thati Lopes, ainda que com pouco tempo em cena, empresta energia e humor à esposa que inspiraria a própria Mônica e arranca risos sinceros com seu “MAURÍCIO DE DEUS!”.
Entretanto, o maior destaque no âmbito das atuações com certeza fica por conta de Diego Laumar, responsável por viver Mauricio na infância. O ator mirim tem carisma e conduz a narrativa com maestria, nos fazendo torcer pelo protagonista.
Outro destaque está na trilha sonora de Eduardo Resende, que passeia com naturalidade entre a MPB e melodias orquestradas, acompanhando as transições de tom entre infância, juventude e maturidade. Cada canção reforça o caráter nostálgico e o sentimento de celebração que perpassa todo o longa. O resultado é um retrato sonoro da memória coletiva de um país que cresceu com os personagens de Mauricio.
Conclusão
Ao final, ‘Mauricio de Sousa – O Filme’ não busca revelar segredos nem reescrever a história, mas celebrar a permanência de um sonho. É uma obra que prefere a emoção ao conflito, e por isso pode parecer apressada em seu desfecho. Há um corte súbito que deixa a sensação de que o traço ainda não se completou, como se faltasse uma última página no gibi.
Ainda assim, o saldo é profundamente positivo. O filme cumpre seu papel como homenagem e registro histórico, traduzindo o legado de um artista que fez do afeto sua principal ferramenta criativa. Com leveza e sinceridade, entrega um retrato de humanidade, esperança e imaginação, valores que, como os personagens do Limoeiro, permanecem vivos no coração de quem aprendeu a sorrir com eles.
Veja o trailer de Mauricio de Sousa – O Filme
Onde assistir ao Filme Mauricio de Sousa – O Filme?
‘Mauricio de Sousa – O Filme’ estreia nesta quinta-feira, 23 de outubro, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
Quem está no elenco de Mauricio de Sousa – O Filme (2025)?
- Mauro Sousa
- Elizabeth Savalla
- Thati Lopes
- Natália Lage
- Othon Bastos
- Emilio Orciollo Neto
- Diego Laumar
- Clara Galinari
















