O fascínio do público por histórias de true crime é um fenômeno complexo. O que nos atrai a essas narrativas? Seria a curiosidade mórbida, o desejo de entender a psique de um criminoso ou a forma como esses eventos chocantes se tornam parte da cultura popular? Ryan Murphy, o “Midas” do gênero com suas antologias de sucesso, parece entender bem essa dinâmica.
Após focar em nomes de grande reconhecimento midiático como Jeffrey Dahmer e os irmãos Menendez, a terceira temporada de sua série, “Monstro: A História de Ed Gein”, se volta para um dos assassinos mais influentes, embora menos notório: Ed Gein, o “açougueiro de Plainfield”. A promessa é uma análise aprofundada de um dos personagens mais peculiares da história criminal americana, mas o resultado é uma obra confusa que se afoga em seus próprios excessos.
Sinopse
A trama de Monstro: A História de Ed Gein acompanha a vida de Ed Gein (interpretado por Charlie Hunnam), um homem tímido e excêntrico, que vive em uma fazenda isolada em Wisconsin sob a opressão de sua mãe, a cruel e extremamente religiosa Augusta (Laurie Metcalf). Com a saúde de Augusta em declínio, o já frágil Ed se encontra cada vez mais isolado e desesperado por afeto.
É nesse momento que ele se aproxima de Adeline Watkins (Suzanna Son), uma jovem incompreendida, e começa a se envolver em uma série de crimes bizarros. Esses atos, que incluíam a profanação de túmulos e a criação de artefatos com restos humanos, chocariam a nação e serviriam de inspiração para alguns dos vilões mais icônicos do cinema de terror, como Norman Bates (Psicose), Leatherface (O Massacre da Serra Elétrica) e Buffalo Bill (O Silêncio dos Inocentes).
➡️ Siga o Flixlândia no WhatsApp e fique por dentro das novidades de filmes, séries e streamings
Crítica
A série de Ryan Murphy tem um ponto de partida promissor: traçar um paralelo entre a história de Ed Gein e o legado que ele deixou na cultura pop. No entanto, o que começa como uma costura inteligente de narrativas — misturando a vida de Gein com a criação de filmes como Psicose — rapidamente se desvia para uma busca por sensacionalismo.
A série, que se propõe a criticar o voyeurismo do público e a exploração de histórias de horror, acaba caindo na mesma armadilha. Em sua tentativa de chocar, a produção se deleita em cenas explícitas de profanação de corpos e na exibição de troféus feitos de pele humana, o que resulta em uma experiência indigesta e que, no final das contas, esvazia qualquer profundidade que a série poderia ter.
Um dos maiores problemas é o excesso. As cenas grotescas são repetidas à exaustão, tirando o impacto e transformando o horror em uma banalidade nauseante. A série adiciona arcos de personagens e subtramas que pouco contribuem para a narrativa central, como a inclusão de Ted Bundy e Richard Speck em uma tentativa de “encher linguiça”.
Esse excesso de informações e a falta de foco fazem com que a série se perca, diluindo sua própria crítica e se tornando o que ela mesma denuncia: um espetáculo de horrores que busca apenas o choque pelo choque.
A inconstância narrativa e a desvalorização do elenco
O principal conflito de Monstro: A História de Ed Gein deveria ser a relação tóxica e abusiva entre Ed e sua mãe Augusta. Essa dinâmica é a chave para entender a psique perturbada do assassino. No entanto, após um primeiro episódio promissor, a presença de Laurie Metcalf (Augusta) se torna esporádica e sua brilhante atuação é subutilizada. A série opta por seguir um caminho de divagações, focando em personagens e eventos periféricos, o que enfraquece o núcleo da trama.
Essa inconstância se manifesta em outras escolhas questionáveis. A maquiagem de Tom Hollander para se transformar em Alfred Hitchcock, por exemplo, é tão bizarra que tira o espectador da imersão, fazendo com que o Mestre do Suspense pareça mais um alienígena do que um cineasta lendário.
Além disso, a série tenta tecer uma complexa teia de conexões entre os traumas de Ed Gein e o contexto de atrocidades históricas, como o Holocausto e a Guerra do Vietnã. Essa abordagem, embora ambiciosa, se mostra superficial e falha, tratando temas tão graves com uma frivolidade que chega a ser irresponsável.
➡️ Em ‘The Paper’, o legado de ‘The Office’ está em boas mãos
➡️ A química inesperada de ‘Gênio dos Desejos’
➡️ ‘O Jogo’: quando o mundo virtual invade o real
O brilho de duas atuações em meio ao caos
Apesar dos inúmeros equívocos, a série se sustenta em dois pilares: as atuações de Charlie Hunnam e Laurie Metcalf. Hunnam, conhecido por papéis de galã em filmes de ação, entrega uma performance surpreendente. Ele transforma seu corpo, sua voz e sua postura para capturar a estranheza e o desespero de Gein, criando um personagem que é ao mesmo tempo repulsivo e patético. É, sem dúvida, o ponto alto de sua carreira.
Laurie Metcalf, mesmo com pouco tempo de tela, domina as cenas em que aparece. Sua Augusta é uma força da natureza — odiosa, fanática e absolutamente controladora. A química entre os dois atores, especialmente nas visões alucinadas de Ed, é o que dá à série um vislumbre do que ela poderia ter sido: um estudo psicológico tenso e visceral sobre a origem da maldade. Infelizmente, a série escolhe ignorar essa base sólida e se perde em um emaranhado de tramas secundárias e excessos visuais.
➡️ Quer saber mais sobre filmes, séries e streamings? Então acompanhe o trabalho do Flixlândia nas redes sociais pelo Instagram, X, TikTok e YouTube, e não perca nenhuma informação sobre o melhor do mundo do audiovisual.
Conclusão
Monstro: A História de Ed Gein parece um produto de sua própria crítica. A série se propõe a analisar a fascinação da sociedade pelo horror, mas em sua ânsia por se aprofundar no tema, acaba perpetuando a mesma lógica voyeurística que tenta desconstruir. Ao focar em detalhes gráficos e tramas irrelevantes, a produção de Ryan Murphy esvazia a história de seu potencial dramático e se torna uma narrativa redundante e sem propósito.
Embora as performances de Charlie Hunnam e Laurie Metcalf sejam impressionantes e a série acerte em episódios pontuais (como o primeiro e o sexto), no geral, ela se dissolve em um banquete de clichês e sensacionalismo, provando que, às vezes, menos é mais, especialmente quando se trata de horror. A série faz a pergunta, “para que recontar o que já foi dito?”, e ironicamente, não consegue oferecer uma resposta que justifique sua própria existência.
Onde assistir à série Monstro: A História de Ed Gein?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Veja o trailer de Monstro: A História de Ed Gein (2025)
Quem está no elenco de Monstro: A História de Ed Gein, da Netflix?
- Charlie Hunnam
- Laurie Metcalf
- Suzanna Son
- Tom Hollander
- Vicky Krieps
- Olivia Williams
- Lesley Manville
- Joey Pollari
- Charlie Hall
- Tyler Jacob Moore