Leia a crítica do filme O Riso e a Faca (2025) - Flixlândia Jonathan Guilherme e Sérgio Coragem

‘O Riso e a Faca’ é uma experiência sensorial e ética

Foto: Divulgação
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“O Riso e a Faca”, segundo longa-metragem do diretor português Pedro Pinho, chega como uma obra densa e controversa, que provoca reflexões sobre o neocolonialismo, a política das relações humanas e a ambiguidade emocional em um cenário africano pouco explorado pelo cinema.

Coproduzido por Portugal, Brasil, França e Romênia, o filme aposta em uma narrativa desfragmentada e simbólica, mesclando realismo e ficção para desafiar o espectador a confrontar questões sociais profundas.

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Sinopse

A trama acompanha Sérgio, um engenheiro ambiental português enviado à Guiné-Bissau para avaliar o impacto ambiental de uma obra de infraestrutura rodoviária que conecta o deserto à selva. Durante sua estada, se envolve com Diára e Gui, moradores locais, num triângulo afetivo carregado de tensões, desejos e conflitos relacionados a identidade, poder e colonialismo.

O filme desconstrói a linearidade tradicional da narrativa, explorando através desses personagens as contradições do homem branco europeu diante das complexas dinâmicas políticas, sociais e pessoais no contexto africano.

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Crítica

A obra gera uma importante dúvida sobre sua classificação: é um filme convencional ou um documentário? Pinho discerne ambos os caminhos, construindo uma experiência que se aproxima do cinema etnográfico ao capturar as nuances da cultura guineense e as tensões políticas neocoloniais, mas que se perde para quem busca uma ficção com estrutura clara, drama encenado e desenvolvimento emocional tradicional.

A sensação que fica é a de uma longa reportagem – por vezes dura, por vezes gráfica – que testa a paciência do espectador ao estender-se por quase três horas e meia.

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Multiplicidade de temas e duração excessiva

O filme arrisca abraçar muitos assuntos: relações afetivas e sexuais, tensão política, crítica ao setor humanitário, identidade queer, pós-colonialismo e o entrelaçamento do indivíduo com instituições globais. Embora esta pluralidade seja enriquecedora em teoria, na prática a narrativa se fragmenta e perde ritmo, tornando difícil o acompanhamento e o engajamento do público em vários momentos.

A duração épica contribui para um desgaste perceptível, e a aposta na improvisação dos atores, embora gere naturalidade, não salva da sensação de exagero e repetição.

Leia a crítica do filme O Riso e a Faca (2025) - Flixlândia Diara e Gui
Foto: Divulgação

Representações contrastantes e o olhar do diretor

Pedro Pinho mantém seu estilo técnico com longos planos, câmera incômoda e uma proximidade invasiva em cenas íntimas, o que reforça o aspecto documental e reforça o sentimento de imersão.

O principal acerto está na complexidade dos personagens principais, em especial Sérgio, cuja fragilidade e incerteza revelam uma reflexão sobre o privilégio europeu e a sensação de deslocamento no continente africano. A relação entre os três protagonistas – Sérgio, Diára e Gui – não se resume a romance, mas se desdobra em um olhar crítico sobre poder, sexualidade e colonialismo interno.

No entanto, a ausência de um arco narrativo claro e o abandono da dimensão política quase no final fragilizam o impacto do filme. O discurso do diretor se destaca pela ética e pelo cuidado para não fetichizar Guiné-Bissau, mas sua própria obra acaba questionando os limites do olhar externo e do cinema etnográfico quando falhamos em converter a experiência em transformação real para os retratados.

Potencial estético e trilha sonora

A fotografia, filmada em película nas paisagens da Guiné-Bissau e Mauritânia, é belíssima e serve como reflexão simbólica sobre a dureza e a beleza da vida local. A trilha sonora de Tom Zé complementa o tom paradoxal da obra, encapsulando “o riso e a faca” como metáfora das contradições humanas e sociais presentes no filme.

A participação brasileira e internacional enriquece a produção e amplia o escopo artístico, valorizando o diálogo entre culturas lusófonas. O desafio técnico de filmar em película e no meio da pandemia reforça a dimensão épica da empreitada, mesmo que nem sempre acompanhado de dinamismo na narrativa.

Conclusão

“O Riso e a Faca” é uma obra que caminha na corda bamba entre o ensaio político e o experimento cinematográfico. Sua relevância está no convite à reflexão sobre neocolonialismo, identidade e as relações de poder globais, além de um olhar cuidadoso para com a cultura africana. Contudo, a longa duração e a complexidade fragmentada do roteiro tornam-no um filme de difícil digestão para o público em geral, exigindo do espectador um mergulho profundo e paciente.

Mais do que um entretenimento tradicional, o filme é uma experiência sensorial e ética que desafia o espectador a confrontar seus próprios conceitos sobre colonização, desejo e alteridade – ainda que às custas da narrativa convencional. Assim, “O Riso e a Faca” consolida Pedro Pinho como um cineasta autoral provocador, que não evita a complexidade, ainda que nem sempre consiga domá-la completamente.

Veja o trailer de O Riso e a Faca (2025)

YouTube player

Onde assistir ao filme O Riso e a Faca?

O filme foi exibido no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo 2025, mas ainda não tem previsão de lançamento em circuito nacional nos cinemas brasileiros.

Quem está no elenco de O Riso e a Faca (2025)?

  • Sérgio Coragem
  • Cleo Diára
  • Jonathan Guilherme
  • Renato Sztutman
  • Jorge Biague
  • Bruno Zhu
  • Kody McCree
  • Everton Dalman

Escrito por
Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

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