A Noruega, lar de fiordes dramáticos e lendas milenares, nos presenteou em 2022 com O Troll da Montanha, um filme que surpreendeu ao misturar o gênero kaiju (monstro gigante) com ares de folclore nórdico e uma abordagem surpreendentemente pé no chão.
O sucesso global do original na Netflix pavimentou o caminho para a inevitável sequência, O Troll da Montanha 2. Retornando à cadeira de direção, Roar Uthaug (de A Onda) e o roteirista Espen Aukan prometem expandir o universo. A pergunta que fica é: ao ganhar mais orçamento e “mais monstro”, a saga manteve a alma rústica e atmosférica que a definiu, ou sucumbiu à pressão algorítmica de ser “maior, mais alto e mais rápido”?
Sinopse
Troll 2 retoma a narrativa alguns anos após o confronto cataclísmico do primeiro filme. A paleontóloga Nora Tidemann (Ine Marie Wilmann), marcada pelos eventos anteriores, agora dedica-se ao estudo da complexa coexistência entre a humanidade e os jötunn (gigantes do folclore). Seu velho colega, o conselheiro ministerial Andreas Isaksen (Kim Falck), a arranca do exílio autoimposto quando uma nova e mais agressiva ameaça desperta das profundezas das montanhas.
O “Megatroll” recém-despertado tem um alvo claro: a cidade de Trondheim e, mais especificamente, uma vingança histórica contra o Rei Olaf II da Noruega, o Santo Rei, figura central na violenta cristianização que buscou erradicar o passado pagão do país. Nora, Andreas e o major militar Kris Holm (Mads Sjøgård Pettersen), com a ajuda da novata Marion (Sara Khorami), embarcam em uma caçada que mistura ação frenética com uma busca por segredos ancestrais.
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Resenha crítica de O Troll da Montanha 2
A maior e mais gritante mudança em O Troll da Montanha 2 é a sua filosofia estética. O original bebia da fonte de Godzilla (2014), preferindo a reverência, o suspense e o olhar humano sobre uma força da natureza incompreensível. A sequência, no entanto, abraça o modelo do MonsterVerse mais recente, flertando perigosamente com o território de Godzilla vs. Kong. O foco migra da construção de atmosfera e maravilhamento para a entrega de espetáculo puro e desenfreado.
Essa mudança se manifesta no “visual Netflix”: uma cinematografia que, apesar de tecnicamente competente, é plana, cinzenta e excessivamente digital. O charme do primeiro filme, que usava as paisagens acidentadas da Noruega como um personagem texturizado, é aqui suavizado e polido digitalmente. É irônico que um filme sobre a natureza e o folclore se sinta, em muitos momentos, como um produto sintético de linha de montagem de conteúdo, perdendo a “magia rústica” que o antecessor tinha de sobra.

Perda de foco: a busca por papel de parede
A trama de O Troll da Montanha 2 é um caleidoscópio tonal, girando incessantemente entre diferentes gêneros sem se comprometer com nenhum. Em um momento, é uma aventura Spielbergiana de tirar o fôlego; no seguinte, transforma-se em uma caça ao tesouro no estilo Indiana Jones, buscando manuscritos e mergulhando em tumbas antigas. Há até acenos a dramas de comunicação interespécies no estilo A Chegada.
O problema é que o filme veste tudo de forma leve, como se tivesse medo de se aprofundar. Essa superficialidade impede que qualquer um desses elementos floresça. A piada sobre “vamos precisar de mais papel de parede” após um troll arrancar o telhado de uma casa é deliciosamente nórdica e bem-humorada, mas o filme como um todo sofre com esse excesso de leveza. As tentativas de humor são inconsistentes, e a falta de gravidade mina os momentos mais sérios da trama.
Personagens e mitologia diluída
O elenco continua sendo um ponto forte, com a química palpável entre os protagonistas Nora (Ine Marie Wilmann) e Andreas (Kim Falck), além do carismático Kris Holm. Wilmann, em particular, permanece como a âncora emocional, trazendo empatia inabalável pelo jötunn. Contudo, o roteiro trata os arcos dos personagens como DLCs opcionais. Nora, que antes era uma trollologista empática, oscila de forma brusca para uma cruzada que atira granadas recheadas de água benta, uma escolha que violenta a suspensão de descrença.
A mitologia, apesar de expandida, também é tratada com superficialidade. A promessa de uma alegoria profunda sobre a cristianização da Noruega e a supressão do passado pagão — sugerindo que os trolls são a manifestação física de uma história reprimida — é fascinante.
Uthaug e Aukan provocam essa camada de podridão no estado norueguês, ou até mesmo um subtexto sobre imigração/multiculturalismo, mas rapidamente dão preferência ao caos widescreen, como a cena hilária do troll descascando o teto de uma boate. O filme poderia ter sido um tesouro nacional com monstros, mas opta por ser o blockbuster mais seguro, rápido e esquecível.
Conclusão
O Troll da Montanha 2 é, em essência, um bom filme que, no entanto, não consegue se justificar plenamente na sombra de seu antecessor. É um passatempo leve e divertido de kaiju, que entrega sequências de ação competentes e se beneficia da química do seu elenco. Contudo, ao trocar a atmosfera e a abordagem folclórica do original por um espetáculo mais genérico, digitalizado e grandioso, a sequência perde a urgência e a magia palpável.
É um filme que não irá desapontar quem busca apenas ação e monstros bem desenhados para uma noite de pipoca. Mas para aqueles que esperavam a profundidade mitológica e a alma atmosférica que tornaram o primeiro um sucesso surpreendente, a sensação é que o charme nórdico foi polido até virar apenas mais um papel de parede no vasto catálogo de streaming.
É divertido, rápido e, infelizmente, facilmente esquecível. No final das contas, apesar da expansão de escala, a saga ainda busca encontrar uma voz que não seja apenas um eco de filmes americanos de monstros.
Onde assistir ao filme O Troll da Montanha 2?
Trailer de O Troll da Montanha 2 (2025)
Elenco de O Troll da Montanha 2, da Netflix
- Ine Marie Wilmann
- Kim Falck
- Mads Sjøgård Pettersen
- Sara Khorami
- Karoline Viktoria Sletteng Garvang
- Anne Krigsvoll


















