Wilson Spiler23/05/20255 Mins de Leitura8 Visualizações
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Quatro anos após o sucesso da trilogia “Rua do Medo”, a Netflix retorna ao universo criado por R.L. Stine com a parte 4, intitulada de “Rua do Medo: Rainha do Baile”. Ambientado nos anos 1980, o novo capítulo tenta reviver a fórmula de terror slasher adolescente que consagrou os primeiros filmes.
No entanto, apesar das expectativas, esta nova incursão se revela um esforço irregular, que, embora aposte no gore e nas referências ao gênero, carece da criatividade e da atmosfera que tornaram a trilogia original tão memorável.
Sinopse do filme Rua do Medo – Parte 4: Rainha do Baile (2025)
Em Shadyside, cidade marcada por tragédias e maldições, o ano é 1988 e o baile de formatura se aproxima. As garotas populares do colégio disputam com unhas e dentes a cobiçada coroa de Rainha do Baile. Mas quando uma outsider, Lori Granger (India Fowler), decide entrar na competição, tudo muda.
Concorrentes começam a desaparecer misteriosamente, e o que deveria ser a noite mais glamourosa do ano se transforma em um pesadelo sangrento. Sem conexão direta com a maldição de Sarah Fier, que norteou a trilogia anterior, o novo filme aposta em uma trama independente, repleta de novos personagens e com um assassino mascarado que remete aos clássicos do gênero.
Crítica de Rua do Medo: Rainha do Baile (Parte 4), da Netflix
“Rua do Medo: Rainha do Baile” faz um esforço visível para ambientar sua narrativa nos anos 1980, mas acaba recaindo em uma estética genérica. Penteados volumosos, trilha sonora repleta de hits de Billy Idol e Duran Duran e figurinos que simulam, mas não capturam de fato, o espírito kitsch da década. A direção de arte parece mais preocupada em entregar uma festa temática do que construir uma ambientação autêntica ou atmosférica.
O cenário, que deveria ser parte ativa da tensão, limita-se a salas genéricas e corredores pouco inspirados, reforçando a sensação de que o orçamento enxuto e a direção burocrática de Matt Palmer não conseguiram imprimir à produção o mesmo vigor visual dos filmes anteriores.
O peso de suceder uma trilogia marcante
A trilogia original, dirigida por Leigh Janiak, conquistou o público com uma construção narrativa complexa, personagens carismáticos e uma direção que equilibrava bem horror, romance e até humor. Já “Rainha do Baile” parece não entender a mitologia da qual deriva, optando por uma história autônoma que ignora completamente o legado de Sarah Fier e as interconexões que tornaram a trilogia tão rica.
Embora o afastamento da maldição central possa ser visto como uma tentativa válida de renovar a franquia, a execução peca pela superficialidade. O roteiro, coescrito por Palmer e Donald McLeary, limita-se a repetir clichês do slasher adolescente, como o assassino mascarado e o grupo de meninas populares sendo eliminadas uma a uma, sem qualquer subversão ou aprofundamento.
Personagens sem carisma e diálogos burocráticos
Outro ponto fraco está nos personagens. Lori Granger, a “final girl”, interpretada por India Fowler, carece de personalidade. Sua motivação — vencer a coroa para restaurar a reputação da mãe — soa forçada e pouco convincente. Sua amizade com Megan (Suzanna Son), uma horror nerd queer que poderia render um arco interessante, é desperdiçada, sugerindo uma tensão romântica que nunca se concretiza.
As rivais de Lori, lideradas pela caricata Tiffany Falconer (Fina Strazza), compõem o típico grupo de “mean girls”, mas nem mesmo as provocações entre elas geram o impacto desejado. Os diálogos são expositivos, mecânicos, e frequentemente os personagens repetem informações, como se o roteiro não confiasse na atenção do espectador.
Gore competente, mas previsível
Se há um aspecto em que “Rua do Medo – Parte 4: Rainha do Baile” se esforça é na entrega de cenas sangrentas. O filme não economiza em mutilações, cortes e mortes grotescas, com destaque para uma sequência envolvendo um cortador de papel guilhotinado. Porém, mesmo o gore, que poderia ser um diferencial, não compensa a ausência de suspense real.
As mortes, embora gráficas, são mal coreografadas e previsíveis. A identidade do assassino, apresentada como um mistério, é facilmente dedutível, e o clímax carece de impacto emocional ou narrativo. A tensão que deveria escalar até o baile se dilui rapidamente, tornando o filme uma sequência apressada de assassinatos sem atmosfera.
Atuação morna e direção sem pulso
O elenco, embora competente, é prejudicado por um roteiro fraco e uma direção sem pulso. India Fowler não consegue imprimir a Lori a complexidade necessária para que o público se importe com sua sobrevivência. Suzanna Son é uma das poucas que se destaca, trazendo um ar de irreverência à sua Megan, mas também é subaproveitada.
Entre os adultos, Lili Taylor e Katherine Waterston aparecem pouco e sem brilho, em participações que mais parecem cumprir tabela do que adicionar algo relevante à trama. A direção de Matt Palmer, que já mostrou talento em “Calibre” (2018), aqui se mostra genérica, incapaz de imprimir personalidade ou suspense à narrativa.
“Rua do Medo – Parte 4: Rainha do Baile” é um retorno morno a Shadyside, que falha ao tentar reviver a energia e a criatividade que tornaram a trilogia original um sucesso inesperado. Embora entregue o básico que se espera de um slasher — adolescentes sendo mortos de forma brutal —, carece de substância, atmosfera e personagens memoráveis.
Para os fãs da franquia, resta a decepção de um capítulo que, ao invés de expandir o universo de “Rua do Medo”, parece reduzi-lo a um exercício genérico de nostalgia. Para quem busca uma experiência mais intensa e criativa no gênero, melhor revisitar os filmes anteriores ou clássicos como “Baile de Formatura” e “Pânico”.
Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.