O cinema filipino tem tentado abrir portas para novas narrativas e, com Se Você Tivesse Falado, a diretora Shaira Advincula traz para a Netflix uma proposta bastante pessoal e delicada. Inspirado pelo próprio pai da cineasta, o longa tenta equilibrar o drama familiar com questões de identidade e repressão religiosa.
É aquele tipo de filme que promete te deixar com um nó na garganta, mas será que ele entrega tudo o que promete ou se perde no próprio sentimentalismo? Vamos mergulhar nessa história.
Sinopse
A trama gira em torno de Seph (Juan Karlos Labajo), um jovem missionário prestes a embarcar em uma viagem de vários anos pela igreja. O mundo dele, que já estava abalado pela morte de seu pai, Otep (interpretado em fases diferentes por Bodjie Pascua e JC Santos), vira de cabeça para baixo durante o funeral. A cerimônia é bruscamente interrompida por Cecil (Rosanna Roces), uma mulher que Seph nunca tinha visto na vida.
Cecil chega gritando obscenidades e solta a bomba: Otep era gay e, segundo ela, Seph “arruinou” a vida do pai ao nascer. O choque é duplo, tanto pela revelação repentina quanto pelo contexto ultraconservador da igreja que frequentam, onde a homossexualidade é condenada.
Duvidando de tudo e encontrando cartas antigas, Seph descobre que seu pai teve um grande amor na Espanha, um homem chamado Rum (Jaime García). Decidido a entender quem seu pai realmente era, Seph usa sua viagem missionária como pretexto para ir até Córdoba, entregar uma última carta e buscar respostas, enquanto, em paralelo, segredos obscuros sobre o Pastor Leo (Nonie Buencamino) começam a vir à tona nas Filipinas.
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Resenha crítica do filme Se Você Tivesse Falado
O peso do silêncio e das conexões humanas
O ponto mais forte do filme é, sem dúvida, a forma como ele trata o amor acima do medo. A narrativa acerta em cheio ao focar no que está no coração dos personagens, em vez de apenas explorar o sofrimento pelo sofrimento. Apesar das acusações iniciais de Cecil, fica claro que Otep amava seu filho profundamente e escolheu criá-lo, mesmo que isso significasse sacrificar sua própria felicidade romântica.
A dinâmica “pai e filho” funciona como o motor do filme. Mesmo com Otep já falecido, a conexão entre eles se aprofunda através de flashbacks e momentos quase surreais, onde o filme foge do literal para mostrar essa ligação espiritual. É uma abordagem bonita que tenta mostrar que o perdão e o entendimento podem transcender até a morte.

Ritmo irregular e excesso de drama
Apesar das boas intenções, o filme dá umas escorregadas feias no ritmo. É um drama lento, o que não seria um problema se não fosse também previsível em vários momentos. A sensação é de que a história pesa a mão no melodrama, ficando às vezes um pouco “melosa” demais, sem conquistar totalmente a emoção que exige do público.
O maior problema, no entanto, é o enredo paralelo envolvendo a igreja e o Pastor Leo. A subtrama da corrupção e violência do pastor parece forçada, como se o filme precisasse desesperadamente de um vilão ou de um drama extra para justificar a jornada de Seph.
A revelação final sobre o pastor acaba soando como “chover no molhado”, já que a crueldade daquela comunidade com pessoas queer já estava bem estabelecida. Pareceu uma tentativa de validar a moral da história criando um contraste entre a bondade de Otep e a hipocrisia do líder religioso, mas acabou soando artificial.
Atuações e visual
No quesito elenco, temos uma balança desequilibrada. Juan Karlos Labajo, que carrega o protagonista Seph, entrega uma performance estoica demais. É difícil ler o que ele está sentindo, e ele acaba servindo mais como um veículo para a história do que como um personagem complexo por si só. Já Jaime García, o Rum, cai no clichê do “velho rabugento” até finalmente se abrir no final.
Quem realmente brilha e traz autenticidade para a tela são as atrizes que interpretam Cecil (Rosanna Roces e Yesh Burce). Elas trazem uma resiliência e uma vida que faltam em outros cantos do roteiro.
Por outro lado, a parte técnica merece elogios. A cinematografia é linda, especialmente nas cenas ambientadas na Espanha. A arquitetura de Córdoba e as paisagens com oliveiras são filmadas com um olhar artístico que enche os olhos e ajuda a dar um tom mais poético para a viagem de descoberta de Seph.
Conclusão
Se Você Tivesse Falado é um filme terno e bem-intencionado, que funciona como um lembrete gentil de que o amor é mais poderoso que o ódio. Ele acerta ao não demonizar a fé em si, mas sim a hipocrisia de quem a usa para julgar. Embora sofra com um ritmo arrastado, atuações desiguais e um excesso de drama em subtramas desnecessárias, ele consegue entregar um final satisfatório e esperançoso.
É uma obra que mostra um passo à frente para o cinema filipino, mesmo que o caminho ainda tenha alguns tropeços. Se você gosta de dramas familiares emotivos e tem paciência para um desenrolar mais lento, vale a conferida.
Onde assistir ao filme Se Você Tivesse Falado…?
Trailer de Se Você Tivesse Falado (2025)
Elenco de Se Você Tivesse Falado, da Netflix
- Juan Karlos Labajo
- JC Santos
- RK Bagatsing
- Jaime Garcia
- Rosanna Roces
- Nonie Buencamino
- Lotlot De Leon
- Bodjie Pascua
- Xyriel Manabat
- Yesh Burce















