
Foto: Apple TV+ / Divulgação
A Apple TV+ continua sua investida em narrativas sofisticadas e provocativas com “Seus Amigos e Vizinhos” (Your Friends & Neighbors), série estrelada por Jon Hamm que mergulha fundo nas contradições de um homem branco privilegiado, prestes a perder tudo o que acredita possuir.
Criada por Jonathan Tropper (Banshee, Warrior), a série equilibra sátira social, drama familiar e humor sombrio para explorar o desmoronamento de uma vida construída sobre aparências e arrogância.
Nos três primeiros episódios, a produção estabelece seu universo com agilidade e malícia, dando contornos nítidos ao colapso de Andrew “Coop” Cooper, gestor de fundos que, após uma sequência de traições e reveses profissionais, embarca em uma jornada cada vez mais moralmente duvidosa — e cada vez mais fascinante de acompanhar.
Sinopse da série Seus Amigos e Vizinhos (2025)
Coop (Jon Hamm) é um gestor financeiro bem-sucedido que vê seu mundo ruir de uma só vez: sua esposa Mel (Amanda Peet) o trai com seu melhor amigo, Nick (Mark Tallman); ele é demitido da empresa após uma acusação falsa de assédio; e seus próprios filhos, Tori (Isabel Gravitt) e Hunter (Donovan Colan), o tratam com indiferença. Sozinho, falido e emocionalmente devastado, Coop se recusa a aceitar a decadência.
A resposta que encontra é, no mínimo, inesperada: começa a roubar objetos valiosos dos vizinhos ricos do condomínio onde ainda tenta manter as aparências. A situação, inicialmente absurda, rapidamente escala — e o piloto já nos introduz a uma misteriosa cena de assassinato que se desdobra nos episódios seguintes, com Coop no centro de uma teia de mentiras, segredos e crimes que desafiam sua sanidade e sua própria narrativa.
Você também pode gostar disso:
+ ‘Vidas Processadas’ e um conteúdo em busca de propósito
+ ‘Doce Engano’ e a arte de enganar o espectador — no bom e no mau sentido
+ ‘Doctor Who’ abre 2ª temporada com ousadia, sátira e uma companheira que promete
Crítica de Seus Amigos e Vizinhos, da Apple TV+
Jon Hamm encontra aqui um papel que parece ter sido moldado sob medida. Com um misto de charme e autocomiseração, Coop é o típico homem branco em crise de meia-idade — figura já conhecida da dramaturgia, mas raramente retratada com tamanha complexidade e sarcasmo.
Hamm domina a tela com segurança, explorando as nuances entre a autodestruição e o narcisismo silencioso, num tom que remete a Don Draper, mas com os pés cravados no absurdo contemporâneo.
Coop é o tipo de personagem que poderíamos detestar, mas que, pelas mãos do ator e da direção de Craig Gillespie (Eu, Tonya), se torna hipnotizante. É aquele tipo de figura que, mesmo errada, ganha nossa torcida — ainda que saibamos que o caminho está fadado ao desastre.
Sátira social com o veneno dos privilegiados
Um dos grandes trunfos da série é como Tropper transforma o subúrbio abastado de Westmont Village num microcosmo da hipocrisia americana. Casas impecáveis, festas elegantes, sorrisos ensaiados — tudo serve de pano de fundo para revelar relações frágeis, vaidades patéticas e segredos enterrados em tapetes de mármore.
Ao invadir as casas dos vizinhos, Coop não apenas rouba relógios caros: ele literalmente vasculha as almas podres da elite que um dia o acolheu. É como se a série dissesse: todos ali têm algo a esconder — e o protagonista é apenas mais um reflexo dessa decadência coletiva.
Roteiro afiado e direção que dita o ritmo
Com diálogos rápidos e repletos de ironia, “Seus Amigos e Vizinhos” sabe rir do desespero de seus personagens sem ridicularizá-los. A verborragia de Coop, amplificada por uma narração em off cheia de malícia, traz à tona o desconforto com a própria imagem. E o texto de Tropper brilha justamente ao não oferecer redenção fácil: este é um mundo onde ninguém é exatamente inocente.
Craig Gillespie, responsável pela direção dos primeiros episódios, imprime um ritmo envolvente, com enquadramentos que reforçam a claustrofobia emocional do protagonista. A sequência de abertura, com Coop ao lado de um cadáver em uma mansão, já sinaliza que estamos prestes a acompanhar uma espiral vertiginosa — e viciante.
Relações familiares e o fracasso como espelho
O relacionamento com Mel, os filhos e a irmã Ali (Lena Hall) expõem as rachaduras afetivas de Coop muito antes da crise profissional. O casamento, como descobrimos, já estava esfacelado; os filhos, distantes; a irmã, emocionalmente instável, mas talvez o único laço genuíno que ele ainda mantém.
Esses vínculos são trabalhados com sensibilidade, sem apelar para sentimentalismos fáceis. Ao contrário: a série reconhece que Coop colheu exatamente o que plantou — e que agora, mesmo em queda, insiste em controlar os estragos com a mesma arrogância que sempre o guiou.
Conclusão
“Seus Amigos e Vizinhos” é uma mistura agridoce entre sátira mordaz e thriller psicológico, que entrega uma das performances mais interessantes da carreira recente de Jon Hamm. Nos três primeiros episódios, a série já estabelece sua força narrativa, cria personagens ricos em contradições e nos convida a rir — e também a refletir — sobre o colapso de uma vida moldada pelo excesso.
Com texto afiado, direção elegante e um protagonista fascinante em sua ruína, a série promete se consolidar como mais um acerto da Apple TV+. E se continuar nesse ritmo, tem tudo para se tornar uma das produções mais provocativas e comentadas da temporada.
Siga o Flixlândia nas redes sociais
+ TikTok
+ YouTube
Onde assistir à série Seus Amigos e Vizinhos?
A série está disponível para assistir no Apple TV+.
Trailer de Seus Amigos e Vizinhos (2025)
Elenco de Seus Amigos e Vizinhos, da Apple TV+
- Jon Hamm
- Amanda Peet
- Olivia Munn
- Hoon Lee
- Mark Tallman
- Lena Hall
- Aimee Carrero
- Eunice Bae
- Isabel Gravitt
- Donovan Colan
Ficha técnica da série Seus Amigos e Vizinhos
- Título original: Your Friends & Neighbors
- Criação: Jonathan Tropper
- Gênero: drama
- País: Estados Unidos
- Temporada: 1
- Episódios: 10
- Classificação: 16 anos