Crítica da série 'Superstar', da Netflix (2025) - Flixlândia (1)

A genialidade surreal de ‘Superstar’

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No panteão das produções biográficas, poucas ousam dinamitar as convenções do gênero com a audácia e a criatividade de “Superstar”. A nova minissérie da Netflix, criada por Nacho Vigalondo com a chancela de produtores como Javier Calvo e Javier Ambrossi (“Pedro x Javis”), não é um mero resgate nostálgico do “Tamarismo” — o fenômeno midiático que dominou a Espanha na virada do milênio.

É uma reimaginação radical, um mergulho surrealista e, acima de tudo, um ato de reparação histórica. Ao rejeitar a narrativa factual em favor de uma fantasia estilizada, a série consegue capturar uma verdade muito mais profunda e visceral sobre fama, identidade e a crueldade de uma cultura que transforma pessoas em produtos descartáveis.

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Sinopse

Superstar narra a ascensão e queda de Tamara (mais tarde Yurena), uma aspirante a cantora que se tornou uma obsessão nacional no início dos anos 2000. Em vez de seguir uma linha cronológica tradicional, a série adota uma estrutura episódica, onde cada um dos seis capítulos se dedica a uma figura central do bizarro ecossistema que orbitava a protagonista.

Conhecemos sua mãe e protetora feroz, Margarita Seisdedos (Rocío Ibáñez), famosa por carregar um tijolo na bolsa; o compositor ambíguo Leonardo Dantés (Secun de la Rosa); o vidente Paco Porras (Carlos Areces) e suas profecias com frutas; a cantora rival Loly Álvarez (Natalia de Molina); e o empresário Arlekín (Julián Villagrán).

Juntos, eles formaram uma constelação de personalidades que alimentaram e foram devoradas pela “telebasura”, os programas de auditório sensacionalistas da época. A série usa esse pano de fundo para explorar como a fama foi construída, manipulada e, finalmente, destruída em praça pública.

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Crítica

O maior trunfo de Superstar é sua recusa em ser um documentário dramatizado. Nacho Vigalondo abraça a ficção de gênero — da ficção científica ao realismo mágico — não como um escape, mas como a única linguagem capaz de traduzir o absurdo daquela era.

A “realidade” transmitida pelos programas de TV da época era, ela mesma, uma ficção cruel e manipulada. A série inverte essa lógica: sua fantasia explícita serve como um veículo para a justiça poética. Essa abordagem remete à tradição literária espanhola do “esperpento”, que utiliza o grotesco para criticar a sociedade.

Cada episódio funciona como um pequeno filme autônomo, com uma estética visual única que vai de videoclipes kitsch a referências a David Lynch, desmontando o classicismo cultural que via essas figuras apenas como motivo de chacota.

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A corte dos milagres em horário nobre

A série recria com maestria o ecossistema midiático que deu origem ao “Tamarismo”. Programas como Crónicas Marcianas são retratados como arenas de canibalismo televisivo, onde a fama era uma faca de dois gumes. O roteiro é brilhante ao mostrar que nenhuma dessas figuras existia isoladamente.

Eram um universo simbiótico onde as brigas, alianças e escândalos públicos geravam uma narrativa autoperpetuadora, antecipando a lógica dos reality shows modernos. As atuações são um pilar fundamental.

Ingrid García-Jonsson entrega uma Tamara/Yurena que transita entre a vulnerabilidade e a persona de diva com uma dignidade comovente. Carlos Areces como Paco Porras e Secun de la Rosa como Leonardo Dantés são igualmente magistrais, capturando o espírito de seus personagens sem jamais cair na imitação barata ou na paródia.

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Cena da série 'Superstar', da Netflix (2025) - Flixlândia
Cena da série ‘Superstar’ (Foto: Netflix / Divulgação)

Um exercício radical de empatia

Por trás de toda a pirotecnia visual e narrativa, Superstar é movida por um profundo senso de empatia. O objetivo claro dos criadores é humanizar aqueles que foram sistematicamente desumanizados. A série se posiciona como uma carta de amor aos que ficaram presos na engrenagem tóxica da mídia.

A decisão de focar o arco central na relação de amor entre Tamara e sua mãe, Margarita, é um exemplo poderoso dessa escolha. Em vez de explorar apenas os escândalos, a produção encontra seu coração nesse vínculo de proteção incondicional.

O fato de a própria Yurena ter participado da produção e descrito a série como uma forma de “terapia” e “justiça” valida a missão do projeto, elevando-o de mero entretenimento a um poderoso ato de reparação.

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O multiverso da identidade e a redenção final

O episódio final transcende tudo o que veio antes, mergulhando de cabeça no multiverso como metáfora para a crise de identidade da protagonista. O confronto entre Yurena, a estrela quebrada pela fama, e Marimar, sua versão anônima de uma realidade alternativa, é uma das soluções criativas mais geniais da TV recente. Não se trata de um artifício gratuito, mas de uma forma poderosa de explorar o arrependimento, o desejo e a aceitação.

A reconciliação entre as duas versões de si mesma simboliza a paz que Yurena precisava fazer com seu passado doloroso para poder renascer. Ao final, quando Yurena volta ao palco com a presença simbólica da mãe ao seu lado, a série entrega sua mensagem mais potente: a redenção não está em apagar as cicatrizes, mas em aprender a brilhar com elas.

Conclusão

Superstar é uma obra complexa, audaciosa e artisticamente ambiciosa que certamente irá dividir o público com sua natureza experimental. No entanto, é exatamente essa ousadia que a torna indispensável. Mais do que contar a história de uma mulher, a série pinta um retrato de uma Espanha em um momento de transição caótica, revelando verdades desconfortáveis sobre a natureza da celebridade, o poder da mídia e a fragilidade da memória cultural.

É uma crítica contundente, um exercício de empatia e uma celebração do fascinante, provando que, às vezes, a melhor maneira de entender a realidade é reinventá-la por completo. Uma das melhores e mais originais produções do ano.

Onde assistir à série Superstar?

O filme está disponível para assistir na Netflix.

Assista ao trailer de Superstar (2025)

YouTube player

Elenco de Superstar, da Netflix

  • Ingrid García-Jonsson
  • Natalia de Molina
  • Secun de la Rosa
  • Pepón Nieto
  • Carlos Areces
  • Julián Villagrán
  • Rocío Ibáñez
  • Neus Asensi
  • Óscar Ladoire
  • Javier Gurruchaga
Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

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