‘Will & Harper’, quando o que mais importa é o vínculo que mantemos uns com os outros
Giselle Costa Rosa 
Foto: Netflix / Divulgação
“Will & Harper” é um documentário da Netflix que mistura humor e reflexão ao acompanhar uma viagem de carro pelos Estados Unidos realizada por Will Ferrell e sua amiga de longa data, Harper Steele, uma roteirista do Saturday Night Live que recentemente se assumiu como mulher trans.
Dirigido por Josh Greenbaum, o filme transcende o formato típico de uma “road movie” ao trazer à tona a complexidade da experiência trans em um país dividido por contrastes políticos e sociais. Com a marca registrada de comédia e autenticidade, Ferrell e Steele nos convidam a um mergulho profundo em sua amizade e nos desafios enfrentados por Harper ao se reconectar com lugares que um dia lhe foram familiares.
Sinopse do filme Will & Harper (2024)
Harper Steele, conhecida por seu trabalho como roteirista e ex-chefe de redação do Saturday Night Live, decidiu se assumir como mulher trans em 2022, aos 61 anos. Quando compartilhou essa notícia com seu amigo de décadas, Will Ferrell, ele teve uma ideia: por que não fazer uma viagem pelos Estados Unidos e registrar o processo de Harper se reconectando com o país?
Assim nasceu “Will & Harper”, um documentário onde Ferrell e Steele pegam a estrada, cruzando de costa a costa, entre risadas, conversas sinceras e algumas situações tensas. A proposta é clara: explorar o impacto da transição de Harper tanto para ela quanto para as pessoas ao seu redor, e como a sociedade americana está preparada para lidar com questões de identidade de gênero.
Você também pode gostar disso:
+ O caos da adolescência em ‘Divertida Mente 2’
+ ‘Calor Mortífero’: um noir visualmente deslumbrante, mas sem alma
+ ‘Um Verdadeiro Cavalheiro’ foge de estereótipos
Crítica de Will & Harper, da Netflix
“Will & Harper” é um documentário que, à primeira vista, pode parecer leve e despretensioso, mas que revela camadas profundas de vulnerabilidade e coragem. A direção de Josh Greenbaum consegue equilibrar o tom bem-humorado de Will Ferrell com os momentos delicados da transição de Harper.
A química entre os dois é palpável, construída ao longo de anos de parceria tanto na vida quanto no trabalho, e isso se reflete em diálogos espontâneos e uma honestidade que raramente vemos em produções do gênero.
O filme também cumpre um papel importante como uma ferramenta de introdução ao tema da transição de gênero para um público majoritariamente cisgênero. Ao mostrar Ferrell questionando Harper sobre aspectos da transição, ele atua como um espelho para espectadores que têm dúvidas ou receios de perguntar.
Esses momentos são tocantes e, muitas vezes, cômicos — como quando Ferrell pergunta se seu treinamento de jiu-jitsu, duas vezes ao mês, seria suficiente para protegê-la em situações de perigo. É nessa mistura de sinceridade e humor que o documentário encontra sua força, tornando a experiência de Harper mais acessível e humana.
No entanto, é preciso mencionar que o filme, em alguns pontos, hesita em explorar as dificuldades de ser uma mulher trans nos Estados Unidos de maneira mais incisiva. Há cenas em que o preconceito é tratado de forma breve, sem o devido aprofundamento, deixando uma sensação de que o documentário opta por um tom otimista quando poderia também mergulhar nas realidades mais sombrias do preconceito. Isso, entretanto, parece ser uma escolha consciente, com o objetivo de não alienar o público, mas sim atraí-lo para uma narrativa de esperança e empatia.
A presença de Will Ferrell, uma figura conhecida e querida, funciona como uma ponte para que espectadores mais conservadores se sintam inclinados a assistir ao documentário e, quem sabe, reavaliar seus pontos de vista. Isso é especialmente evidente nas interações que Ferrell e Steele têm em bares de beira de estrada e arenas esportivas, locais que, à primeira vista, parecem hostis, mas que acabam revelando pessoas abertas ao diálogo e ao respeito.
A cena em que Harper entra em um bar repleto de bandeiras confederadas e acaba sendo bem recebida é emblemática — uma mistura de surpresa e alívio que encapsula a complexidade das relações humanas em um país tão diverso como os Estados Unidos.
Conclusão
“Will & Harper” é um documentário que, ao mesmo tempo em que entretém, educa e emociona. Harper Steele e Will Ferrell nos mostram que, em um país dividido por questões políticas e sociais, ainda há espaço para amizade, compreensão e respeito. A jornada dos dois pelas estradas americanas é mais do que um passeio, é um exercício de aceitação e coragem.
Embora o filme evite mergulhar profundamente nos aspectos mais dolorosos do preconceito, ele se destaca ao humanizar a experiência trans de forma leve e acessível. Com humor, vulnerabilidade e muita autenticidade, “Will & Harper” nos lembra que, no fim das contas, o que mais importa é o vínculo que mantemos uns com os outros.
Siga o Flixlândia nas redes sociais
+ Instagram
+ Twitter
+ TikTok
+ YouTube
Onde assistir ao filme Will & Harper?
O filme está disponível para assinantes da Netflix.
Trailer de Will & Harper (2024)
Elenco de Will & Harper, da Netflix
- Will Ferrell
- Harper Steele
- Colin Jost
- Tim Meadows
- Seth Meyers
Ficha técnica da série Will & Harper
- Título original: Will & Harper
- Direção: Josh Greenbaum
- Roteiro: Will Ferrell, Colin Jost, Tim Meadows
- Gênero: documentário
- País: Estados Unidos
- Ano: 2024
- Duração: 114 minutos
- Classificação: 12 anos
Sobre o autor
