Confira a crítica de "12.12: O Dia", filme sul-coreano de 2025 que estreia em 23 de abril nos cinemas brasileiros
Críticas

‘12.12: O Dia’ mostra como o silêncio institucional abre caminho para ditaduras

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Em tempos de instabilidade política global, filmes que revisitam momentos cruciais da história ganham novo fôlego e sentido. “12.12: O Dia”, dirigido por Kim Sung-su, é um desses casos emblemáticos. Mais do que uma simples dramatização de um episódio histórico da Coreia do Sul, o longa transforma uma noite de tensão em uma poderosa alegoria sobre lealdade, covardia institucional e o peso da omissão.

A obra conquistou o público coreano em 2023, tornando-se um fenômeno de bilheteria — mas também se apresenta como um espelho inquietante para outras democracias frágeis, inclusive a brasileira.

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Sinopse do filme 12.12: O Dia

A trama se passa em dezembro de 1979, logo após o assassinato do presidente sul-coreano Park Chung-hee, que governou o país com autoritarismo por quase duas décadas. Em meio à turbulência política, a lei marcial é decretada. Aproveitando o vácuo de poder, o Comandante de Segurança da Defesa, Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min), lidera um golpe com apoio de parte das Forças Armadas.

Do outro lado está Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), comandante da Defesa da Capital, que acredita no papel apolítico do Exército e tenta resistir à escalada autoritária. A disputa pelo controle da nação se dá em nove horas decisivas, onde cada decisão, cada ordem, cada hesitação, pode mudar os rumos da história.

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Crítica de 12.12: O Dia (2025)

Kim Sung-su constrói “12.12: O Dia” como uma peça de guerra travada em salões escuros, corredores militares e telefonemas nervosos. Há tiros e tanques, sim, mas o grande embate é moral.

A tensão não vem das explosões, mas do silêncio entre as ordens, da hesitação dos generais, do embate ético entre dois projetos de poder. A escolha de condensar o drama em uma única noite favorece o ritmo: o tempo corre contra os personagens, e o espectador sente isso pulsar a cada cena.

Retrato de ambição e fraqueza

O longa apresenta dois polos opostos: Chun, o vilão implacável, maquiavélico e metódico; e Lee, o herói trágico, idealista e contido. Hwang Jung-min interpreta Chun com uma frieza que arrepia. Sua ambição, ainda que repulsiva, é envolta em carisma e controle. Já Jung Woo-sung confere a Lee uma nobreza quase romântica, tornando sua resistência mais simbólica do que eficaz.

No entanto, ao redor desses dois, o que se vê é paralisia. Generais que se escondem atrás da conveniência, ministros que esperam o vento virar e soldados que obedecem sem pensar. O filme denuncia com precisão que a omissão é tão perigosa quanto o autoritarismo declarado.

Uma estética poderosa, mas problemática

Visualmente, “12.12” é impecável. A fotografia sombria, os enquadramentos rígidos e o uso calculado da luz criam um clima opressivo. A mise-en-scène é detalhista, e a trilha sonora amplifica cada dilema. No entanto, há uma contradição desconfortável: enquanto o conteúdo do filme denuncia o golpismo, a forma o estetiza.

A direção transforma o avanço autoritário em espetáculo, embalando cenas de tanques, prisões e perseguições com adrenalina cinematográfica. O resultado é uma perigosa glamorização da ruptura democrática, que pode até provocar indignação, mas também excitação — como se o caos institucional fosse um bom enredo de ação.

Entre a memória e o entretenimento

O filme se propõe a revisitar um trauma nacional com seriedade. Mas a escolha por heróis e vilões excessivamente maniqueístas reduz a complexidade dos fatos. A política vira palco de um duelo entre o “homem bom” e o “homem mau”, enquanto a sociedade civil desaparece da narrativa.

Essa simplificação emociona, mas empobrece a reflexão. Em vez de abrir espaço para o debate, a obra parece querer apenas reafirmar uma moral já dada — como se dissesse ao espectador: “torça por este, deteste aquele”.

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Conclusão

“12.12: O Dia” é um filme importante e necessário. Consegue, com técnica e rigor, reconstruir uma das noites mais críticas da história da Coreia do Sul, provocando incômodo e reflexão. Ao mesmo tempo, escorrega ao tratar o golpe de Estado como uma epopeia masculina, dramatizando o autoritarismo com os mesmos códigos do entretenimento de guerra dos anos 80.

É um filme sobre o passado que fala com o presente — e é aí que mora sua maior força. Em um mundo onde a democracia está sempre à beira do abismo, o filme nos lembra que não basta apontar os culpados: é preciso entender como chegamos até eles. Mesmo que, para isso, seja necessário transformar a história em espetáculo.

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Onde assistir ao filme 12.12: O Dia?

O filme está disponível para assistir nos cinemas a partir do dia 24 de abril de 2025.

Trailer de 12.12: O Dia (2025)

Elenco do filme 12.12: O Dia

  • Hwang Jung-min
  • Jung Woo-sung
  • Lee Sung-min
  • Park Hae-joon
  • Kim Sung Kyun
  • Kim Eui-sung
  • Jung Dong-hwan
  • Ahn Nae-sang

Ficha técnica de 12.12: O Dia (2025)

  • Título original: Seoul-ui Bom
  • Direção: Sung Soo Kim
  • Roteiro: In-pyo Hong, Sung Soo Kim, Young-jong Lee
  • Gênero: suspense, ação, drama
  • País: Coreia do Sul
  • Duração: 141 minutos
  • Classificação: 14 anos
Escrito por
Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

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