“A Queda do Céu” não é um documentário convencional. Ele não está aqui para simplesmente informar ou denunciar, mas para ouvir e vivenciar uma sabedoria ancestral que pulsa nos cerimoniais e na cosmologia dos Yanomami.
Direcionado pelos cineastas Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, o filme traz uma experiência imersiva e sensível que foge da superficialidade lógica dos documentários tradicionais e vai direto ao encontro do espiritual, do ritual e da resistência.
Sinopse
O filme é um convite para acompanhar o ritual xamânico Reahu, um rito fúnebre que guia o espectador pela existência e pelo universo Yanomami na comunidade Watorikɨ, no Amazonas.
A narrativa é conduzida pela voz e presença do xamã Davi Kopenawa, que interliga os mitos, a política do luto e a ameaça concreta do garimpo e da destruição ambiental.
Por meio de uma câmera que escuta e respeita o tempo do povo, não há pressa nem julgamento – existe apenas a tentativa sincera de conviver com esse universo e suas ameaças.
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Resenha crítica de A Queda do Céu
A principal força do documentário está na sua reverência absoluta às tradições Yanomami. O filme compreende o tempo lento da natureza e dos rituais, o que o torna um exercício de paciência para o espectador – mas uma paciência necessária.
Cada enquadramento, cada corte, é um gesto ritualístico que evita a espetacularização ou exotização. Ao contrário do cinema que apenas observa, “A Queda do Céu” participa daquele fluxo espiritual sem invadir ou alterar a naturalidade dos acontecimentos.

Imagens e sons como linguagem viva
O uso do som é quase uma personagem em si. Os cantos, o ranger da mata, a respiração coletiva criam um desenho auditivo que sensibiliza mais do que explica. Da mesma forma, a fotografia acompanha com delicadeza, jamais invadindo ou objetificando.
Essa escolha estética reforça o respeito pelo povo Yanomami e seu modo de vida, evitando a armadilha do sensacionalismo. Dentro dessa dinâmica, o documentário se torna não só uma obra visual, mas um convite a escutar.
O luto como política e combate
A morte, manifestada no ritual Reahu, é apresentada como um momento cósmico, político e existencial. Ao documentar esse rito, o filme denuncia os impactos das mineradoras, a febre, a fome e o garimpo, que ameaçam a sobrevivência Yanomami.
Mas essa denúncia não é só uma crítica; é também uma convocação para sonhar, para imaginar outro mundo. As flechas das palavras de Kopenawa atingem o “povo da mercadoria” que destrói a floresta, transformando a narrativa num ato de resistência.
Autocrítica e ambiguidade na modernidade
Um ponto muito interessante é a autocrítica incorporada na voz do próprio Kopenawa, que reconhece influências externas, como o uso de roupas falsificadas e celulares pelos jovens da aldeia.
Isso cria uma tensão realista e humana entre a tradição e a modernidade, entre o que os Yanomami resistem e o que inevitavelmente incorpora da cultura dominante. Esse contraste desafia o espectador a fugir da visão simplista do indígena como algo fixo no passado, mostrando-os como sujeitos complexos e multifacetados.
Universalidade da mitologia e justiça cósmica
Embora trate da cultura Yanomami, o filme alcança uma narrativa universal ao relacionar o místico com a nossa própria forma humana de lidar com ameaças e emoções. A mitologia Yanomami, com seu céu que pode cair, é um espelho de nossa própria responsabilidade ecológica e social.
Os “vilões” são identificados e lembrados com clareza, fazendo de “A Queda do Céu” um alerta urgente e poético para o mundo todo, uma espécie de justiça cósmica que parece cada vez mais inevitável.
Conclusão
“A Queda do Céu” é mais do que um documentário sobre um povo indígena: é um portal para um entendimento profundo da relação entre humanidade, natureza e espiritualidade.
Um filme que não quer apenas mostrar, mas escutar e aprender. Ao fim, ele deixa o espectador com um sentimento de reverência e urgência, com a esperança de que, se ouvirmos de verdade, podemos sonhar e agir por outros mundos possíveis.
Onde assistir ao documentário A Queda do Céu?
O filme estreia nesta quinta-feira, 20 de novembro de 2025, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
















