Inspirada em eventos reais e com um elenco de peso, “Cortina de Fumaça” (Smoke, no original) chega ao Apple TV+ com dois episódios trazendo a promessa de entregar um suspense envolvente no universo dos incêndios criminosos.
Criada por Dennis Lehane, autor por trás de sucessos como Ilha do Medo e Sobre Meninos e Lobos, a série busca ir além do gênero policial, explorando os traumas humanos, a psicologia dos criminosos e as zonas cinzentas da moralidade.
Inspirada em eventos reais e baseada no podcast Firebug, a mais nova colaboração entre Lehane e o ator Taron Egerton, repetindo a parceria que rendeu elogios em Black Bird promete mergulhar na mente de incendiários em série por meio da dupla de investigadores Dave Gudsen (Egerton) e Michelle Calderone (Jurnee Smollett).
Sinopse
Na trama, Dave Gudsen, ex-bombeiro e atual investigador de incêndios criminosos, está obcecado por dois casos semelhantes: diferentes focos de fogo surgindo de forma coordenada, com métodos caseiros, porém letais. Para apoiá-lo na investigação, é convocada a detetive Michelle Calderone, uma policial em crise pessoal e profissional, afastada do prestígio após o fim de um relacionamento com seu superior.
Enquanto os dois tentam entender os padrões dos ataques, o público é apresentado ao estranho Freddy Fasano (Ntare Guma Mbaho Mwine), um cozinheiro solitário que parece nutrir um impulso incontrolável de provocar incêndios. Mas o que parecia uma caçada linear ganha contornos mais sombrios com uma revelação inesperada no fim do segundo episódio: talvez o predador também esteja muito mais perto do que se imagina.
Crítica da série Cortina de Fumaça
Taron Egerton entrega uma atuação afiada como Dave Gudsen, um personagem que aparenta segurança, mas cuja fachada começa a ruir lentamente. O fato de ele ser, ao mesmo tempo, o caçador e o possível culpado adiciona camadas interessantes à narrativa. O ator oscila entre o charme de um especialista carismático e a frieza de alguém à beira do abismo – o que instiga o espectador e amplia o impacto do grande “twist” ao final do segundo episódio.
Dupla promissora, mas desconectada
Jurnee Smollett compõe uma Michelle Calderone com força e firmeza, marcada por traumas de infância e um histórico familiar dilacerado pelo fogo. Contudo, apesar das boas atuações individuais, a química entre Smollett e Egerton não se estabelece com naturalidade. Em vez de cumplicidade ou conflito dramático, os diálogos soam por vezes mecânicos, como se faltasse uma faísca que conectasse emocionalmente os dois e sustentasse a tensão da parceria forçada.
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O problema do excesso de revelações
O principal desequilíbrio da série está na estrutura narrativa. Ao revelar a identidade dos dois incendiários ainda no segundo episódio, a trama tira da audiência a chance de mergulhar no mistério junto aos protagonistas. Isso compromete parte da tensão e aproxima a série mais de um estudo de personagens do que de um suspense investigativo.
Ainda que a ideia de inverter a lógica do “whodunnit” seja interessante, a execução apressa o enredo e limita o potencial de envolvimento emocional com o quebra-cabeça. Ao colocar as cartas na mesa cedo demais, a série corre o risco de perder o fôlego antes da metade da temporada.
Freddy Fasano: solidão que queima
O destaque emocional dos primeiros episódios é Freddy, interpretado com uma vulnerabilidade angustiante por Ntare Guma Mbaho Mwine. Seu olhar perdido, a fala hesitante e a tentativa trágica de se reconectar com o mundo criam um personagem que provoca compaixão e repulsa ao mesmo tempo. É uma pena que sua trama já dê sinais de ser engolida pelo arco mais espetaculoso de Dave, ameaçando diluir o que poderia ser um retrato poderoso da solidão e do desajuste.
Atmosfera, direção e trilha: pontos fortes
A ambientação em uma cidade chuvosa e florestal, com fotografia sombria e opressora, ajuda a manter o clima de inquietação. A trilha sonora de Thom Yorke reforça o tom melancólico da série, e a direção aposta em closes demorados e silêncios incômodos para explorar as rachaduras emocionais dos personagens. Apesar disso, há momentos em que a estética pesa mais do que a fluidez narrativa, o que pode afastar parte do público.
Conclusão
“Cortina de Fumaça” começa com força, mas parece detonar suas bombas cedo demais. A escolha de revelar elementos centrais ainda nos primeiros episódios enfraquece o suspense e compromete o ritmo da história. No entanto, as atuações, especialmente de Egerton e Mwine, e a atmosfera cuidadosamente construída mantêm o interesse aceso.
Resta saber se os próximos episódios conseguirão reconduzir a série à trilha do mistério e oferecer uma conclusão que justifique os atalhos tomados no início. Por enquanto, é uma série intrigante, com potencial, mas que precisa equilibrar melhor forma e conteúdo para não acabar soterrada pelas próprias cinzas.
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Onde assistir à série Cortina de Fumaça?
A novela está disponível para assistir na Apple TV+.
Trailer de Cortina de Fumaça
Elenco de Cortina de Fumaça, da Apple TV+
- Taron Egerton
- Jurnee Smollett
- Rafe Spall
- Hannah Emily Anderson
- Ntare Guma Mbaho Mwine
- Greg Kinnear
- John Leguizamo
- Luke Roessler