‘Enfeitiçados’ tem momentos de brilho, mas passa longe de ser marcante
Taynna Gripp24/11/20243 Mins de Leitura159 Visualizações
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“Enfeitiçados” (Spellbound), a mais recente animação lançada pela Netflix, chega com a promessa de uma fábula moderna, com músicas de Alan Menken, direção de Vicky Jenson e um elenco de vozes estelar.
Apesar das credenciais, o filme é um esforço que mistura elementos clássicos de contos de fadas com uma mensagem relevante sobre divórcio e as dificuldades emocionais que ele acarreta. No entanto, será que essa combinação resulta em algo marcante?
A trama se desenrola no reino fictício de Lumbria, onde a jovem princesa Ellian (Rachel Zegler) enfrenta uma situação incomum: seus pais, o rei Solon (Javier Bardem) e a rainha Ellsmere (Nicole Kidman), foram transformados em monstros por uma maldição mágica.
Enquanto o rei virou uma criatura azul e desajeitada, a rainha assumiu a forma de um dragão emplumado. Cabe a Ellian liderar o reino em segredo, ao mesmo tempo que busca reverter o feitiço e restaurar a harmonia familiar.
A jornada da princesa a leva por cenários encantados, acompanhada de aliados como seu bichinho Flink e os Oráculos do Sol e da Lua (Nathan Lane e Tituss Burgess). Pelo caminho, ela precisa confrontar a “sombra”, uma metáfora para os sentimentos negativos que ameaçam consumi-la e seu reino.
“Enfeitiçados” apresenta uma proposta intrigante ao abordar um tema tão humano e relevante como o impacto emocional do divórcio. Contudo, o filme tropeça ao tentar equilibrar a profundidade da mensagem com a leveza típica de animações familiares.
Apesar de toques criativos, como a transformação literal dos pais em monstros, o roteiro opta por explicitar demais suas metáforas, subestimando a capacidade do público jovem de captar mensagens mais sutis.
O design visual é um dos aspectos mais frágeis do filme. Comparado a grandes produções animadas, “Enfeitiçados” parece datado, com cenários pouco detalhados e personagens que carecem de inovação. Mesmo momentos mais criativos, como a “sombra” retratada como um tornado de emoções negativas, acabam ofuscados pela falta de polimento geral.
Trilha e dublagem
Musicalmente, Alan Menken entrega composições competentes, mas longe de seus clássicos memoráveis. “The Way It Was Before” é um destaque, mas outras faixas soam genéricas e rapidamente esquecíveis. Rachel Zegler, no entanto, demonstra talento ao combinar sua atuação vocal com momentos musicais que elevam algumas cenas.
Quanto aos personagens, Ellian se destaca como uma protagonista determinada e empática, mas a falta de um antagonista real prejudica o desenvolvimento do conflito. A “sombra” funciona mais como um conceito do que como uma ameaça palpável, e a ausência de riscos claros diminui o impacto emocional da narrativa.
Embora o filme tente modernizar o gênero de conto de fadas, ele frequentemente se apoia em clichês já explorados por outras animações, como Frozen, Valente e até Divertida Mente. O resultado é um produto que parece familiar, mas incapaz de oferecer algo único.
“Enfeitiçados” tenta conjurar magia ao explorar temas relevantes e atemporais, mas sua execução genérica e visual inconsistente o impedem de se destacar. Com momentos pontuais de brilho – graças à música de Menken e à atuação de Zegler -, o filme oferece uma experiência que, embora divertida, dificilmente será lembrada como um marco na animação.
Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.