Wilson Spiler20/12/20243 Mins de Leitura178
Foto: Netflix / Divulgação
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Após uma trajetória turbulenta entre a ascensão no submundo das drogas e os dilemas morais que acompanharam sua queda, Ferry Bouman retorna com o filme “Ferry 2”, sequência direta da série “Operação Ecstasy”.
Sob a direção de Wannes Destoop e com roteiro de Tibbe van Hoof e Geerard Van de Walle, o filme promete revisitar os dilemas do notório traficante enquanto ele é forçado a confrontar fantasmas do passado. Mas será que essa nova aventura mantém o frescor e a tensão que tornaram o universo da série tão cativante?
Ferry Bouman (Frank Lammers), outrora um dos grandes nomes do tráfico de drogas em Brabant, vive isolado na Espanha, longe de seu antigo império. Seu cotidiano pacato é interrompido quando sua prima Jezebel (Aiko Mila Beemsterboer) surge inesperadamente, pedindo ajuda.
Envolvida em uma negociação fracassada no perigoso mercado de ecstasy, ela precisa de dinheiro e proteção. Ferry reluta, mas acaba sendo puxado de volta ao mundo do crime para salvá-la.
O que Jezebel não sabe é que Ferry carrega um segredo: sua participação no assassinato de seu pai. Enfrentando inimigos imprevisíveis como Lex van Dun (Jonas Smulders), um jovem e ambicioso traficante, Ferry percebe que seu retorno ao submundo pode custar caro — tanto para sua vida quanto para sua consciência.
“Ferry 2” acerta em manter o ritmo frenético e a intensidade emocional que caracterizam o universo de “Operação Ecstasy”. A direção de Wannes Destoop explora com habilidade os contrastes da vida de Ferry: a aparente tranquilidade de sua aposentadoria na Espanha e o caos iminente ao retornar ao crime. A fotografia se destaca, especialmente nas cenas de ação e nos momentos introspectivos de Ferry, evidenciando o peso emocional que ele carrega.
Frank Lammers mais uma vez incorpora Ferry com maestria, entregando um personagem complexo que oscila entre o carismático e o trágico. Sua dinâmica com Aiko Mila Beemsterboer é um dos pontos altos do filme. Jezebel, embora impulsiva e instável, funciona como um catalisador para as decisões de Ferry, e sua interação oferece momentos de tensão e ternura genuínas.
O roteiro, porém, peca pela previsibilidade. Embora os conflitos sejam bem construídos, muitos dos desdobramentos podem ser antecipados, o que diminui parte do impacto. Ainda assim, o antagonista Lex é um acréscimo interessante: sua ameaça sutil, mas constante, cria um bom contraponto à experiência de Ferry.
Outro mérito do filme é como ele aborda o tema da passagem do tempo no mundo do crime. Ferry, agora um veterano, precisa lidar com a ascensão de uma nova geração — menos experiente, mas mais ousada. Essa perspectiva traz frescor à narrativa, mesmo que ela resvale em fórmulas já exploradas.
“Ferry 2” é uma sequência competente que equilibra ação, emoção e dilemas morais. Embora não traga grandes surpresas, oferece uma narrativa envolvente e personagens cativantes, especialmente para os fãs do universo de “Operação Ecstasy”.
Frank Lammers reafirma seu domínio sobre o papel de Ferry, enquanto o roteiro mantém o público investido até o final, ainda que com momentos previsíveis. O filme deixa no ar a pergunta: será este o último capítulo da saga de Ferry Bouman ou há mais segredos a serem revelados?
Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.