Sinopse do filme Peça-me o que Quiser (2024)
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Crítica de Peça-me o que Quiser, da Max
Personagens planos, química inexistente
O maior pecado do filme talvez esteja na sua incapacidade de construir qualquer vínculo crível entre os protagonistas. Gabriela Andrada até tenta dar dimensão à sua personagem, mas esbarra em um texto que não lhe oferece margem para transformação ou agência real.
Judith passa de espectadora passiva a marionete de um desejo alheio, sempre à sombra das vontades de Eric — interpretado por Mario Ermito com uma expressão permanentemente entediada. A química entre os dois é praticamente nula, o que mina não só o envolvimento emocional do público, mas também o apelo erótico da história. Curiosamente, a breve aparição de Betta é mais convincente em criar tensão do que as quase duas horas do casal principal.
Desejo como domínio: um retrocesso narrativo
Em tempos em que a representação da sexualidade no cinema exige responsabilidade e nuance, “Peça-me o que Quiser” parece um retrocesso. A narrativa se ancora em uma lógica ultrapassada de dominação masculina travestida de sedução, onde o prazer feminino é sempre condicionado ao desejo e ao controle do homem.
O roteiro flerta com o misógino ao tratar o corpo da protagonista como um instrumento a ser moldado por traumas alheios que nunca se aprofundam. Ao invés de empoderamento, há submissão disfarçada de fantasia.
Entre fetiche e desperdício
Ainda que o filme busque flertar com o universo de 50 Tons de Cinza e até evoque a estética de Nove Semanas e Meia de Amor, falta-lhe coragem para ousar de fato. Não há tensão, não há risco, não há provocação.
O que se vê é um desfile de cenas que beiram o pastiche, com personagens que mais parecem posar para uma capa de revista do que viver experiências íntimas. Tudo é plástico, previsível, desprovido de alma — uma sucessão de poses sensuais que não excitam, apenas cansam.