Confira a crítica do filme "Bolero - A Melodia Eterna", drama biográfico de 2025 disponível para assistir nos cinemas.

‘Bolero – A Melodia Eterna’, o rigor e a alma de um gênio contido

Compartilhe

Há algo de paradoxal no legado de Maurice Ravel: um compositor refinado, detalhista ao extremo, que criou uma das peças mais populares da história da música — e que, ainda assim, parecia não nutrir grande afeição por ela. Bi filme “Bolero: A Melodia Eterna”, Anne Fontaine transforma essa contradição em narrativa, usando a figura do artista como espelho de um dilema maior: o que significa criar por encomenda? É possível negar a potência de uma obra que transcende o seu próprio criador?

A diretora francesa, conhecida por seu olhar delicado e ao mesmo tempo preciso (Coco Antes de Chanel), mergulha aqui em uma cinebiografia contida, mas de grande impacto. Ancorada na atuação sutil de Raphaël Personnaz e em uma estética que prioriza o silêncio, a repetição e a ambiguidade, a produção revela mais por meio da contenção do que da exposição.

Frete grátis e rápido! Confira o festival de ofertas e promoções com até 80% OFF para tudo o que você precisa: TVs, celulares, livros, roupas, calçados e muito mais! Economize já com descontos imperdíveis!

Sinopse do filme Bolero – A Melodia Eterna

“Bolero: A Melodia Eterna” acompanha os bastidores da criação da famosa composição de Maurice Ravel, encomendada pela bailarina russa Ida Rubinstein. O filme se debruça sobre o processo criativo do músico — um homem metódico, solitário e atormentado por traumas pessoais — enquanto reconstrói com sensibilidade a Paris dos anos 1920, cenário onde arte e repressão se entrelaçam.

À medida que Ravel (Personnaz) revisita memórias dolorosas e confronta desejos reprimidos, sua obsessiva busca por perfeição culmina na construção de sua obra mais icônica — e paradoxalmente renegada.

Você também pode gostar disso:

+ Ryan Coogler entrega um épico lírico sobre sangue, blues e pertencimento em ‘Pecadores’

+ ‘Gananciosos’ transforma a ganância em sátira policial ácida

‘Frozen Hot Boys’ é imperfeito, mas tem muita alma

Crítica de Bolero – A Melodia Eterna (2025)

Anne Fontaine conduz a narrativa com extrema precisão, como se estivesse obedecendo à mesma lógica rítmica do Bolero de Ravel. Seu filme é pautado pela contenção: os silêncios se impõem sobre os diálogos, as emoções vibram sob a superfície, e a montagem evita picos dramáticos em favor de uma cadência quase hipnótica.

É preciso, no entanto, um tempo para sintonizar com essa proposta. A primeira meia hora pode soar fria ou excessivamente cerebral. Mas, quando o espectador se adapta à frequência do filme, percebe que há uma construção sólida por trás de cada escolha estética — do uso simbólico da luz às repetições estruturais da narrativa, que ecoam o ostinato musical da composição.

Personnaz como o intérprete do indizível

Raphaël Personnaz, mais conhecido por papéis discretos no cinema francês, encontra aqui um ponto alto de sua carreira. Seu Ravel é todo nuance: um meio-sorriso aqui, uma hesitação na fala ali, um olhar que desvia no momento exato. O ator constrói um personagem profundamente complexo sem precisar verbalizar seus conflitos. E isso não seria possível sem a confiança que Fontaine deposita em sua performance minimalista.

A relação de Ravel com as mulheres que o cercam — especialmente Misia Sert (Doria Tillier) e Rubinstein (Jeanne Balibar) — é tratada com igual sutileza. Há desejo, sim, mas há também repressão, ambiguidade, negação. O longa evita rotular o protagonista, preferindo explorar a densidade humana de alguém que, mesmo em meio à efervescência artística de Paris, escolhe conter-se.

Um Bolero que fala de contrato, renúncia e legado

O filme ganha força justamente quando se permite tornar-se metalinguístico. O “Bolero” de Ravel foi uma obra encomendada, fruto de uma colaboração que o compositor inicialmente rejeitava. Fontaine transforma essa gênese desconfortável em reflexão: quanta arte nasce do desconforto? O que existe de autêntico na criação motivada por exigências externas?

Essa discussão se espelha na própria trajetória de Fontaine. Coautora do roteiro, ela parece compartilhar com Ravel uma certa frustração com os limites impostos pelo sistema artístico. O filme, então, também funciona como um autorretrato — um gesto de confissão e, ao mesmo tempo, de redenção.

Paris como cenário e personagem

A ambientação é outro ponto de destaque. A Paris dos anos 1920, reconstruída com esmero por Riton Dupire-Clément, emerge como uma personagem silenciosa. Os ambientes aristocráticos, os clubes de jazz, as pontes sobre o Sena… tudo respira arte e contenção, numa perfeita simetria com o universo interno do protagonista.

A fotografia de Christophe Beaucarne, ora luminosa, ora granulada, contribui para a atmosfera suspensa do filme. Já a montagem de Thibaut Damade se inspira na estrutura musical do Bolero — marcada pela repetição e pela acumulação — para construir um ritmo cinematográfico envolvente, ainda que não convencional.

Acompanhe o Flixlândia no Google Notícias e fique por dentro do mundo dos filmes e séries do streaming

Conclusão

“Bolero: A Melodia Eterna” é mais do que uma cinebiografia: é uma meditação estética sobre o peso da genialidade, o silêncio do desejo e a complexa relação entre criador e criação. Anne Fontaine encontra em Maurice Ravel um alter ego artístico e o transforma em um símbolo de todos os artistas que já sentiram que sua obra os ultrapassou. É um filme de camadas, de ecos e de pausas — como a própria música do artista.

Pode não agradar a quem busca respostas fáceis ou emoções explícitas. Mas para quem aceita dançar conforme o compasso da sua melodia inquebrantável, o filme oferece uma experiência memorável, reflexiva e profundamente humana.

Siga o Flixlândia nas redes sociais

Instagram

Twitter

TikTok

YouTube

Onde assistir ao filme Bolero – A Melodia Eterna

O filme está disponível para assistir nos cinemas.

Trailer de Bolero – A Melodia Eterna (2025)

YouTube player

Elenco do filme Bolero – A Melodia Eterna

  • Raphaël Personnaz
  • Doria Tillier
  • Jeanne Balibar
  • Emmanuelle Devos
  • Vincent Perez
  • Sophie Guillemin
  • Alexandre Tharaud
  • Florence Ben Sadoun

Ficha técnica de Bolero – A Melodia Eterna (2025)

  • Título original: Bolero
  • Direção: Anne Fontaine
  • Roteiro: Anne Fontaine, Claire Barré
  • Gênero: drama, biografia
  • País: França, Bélgica
  • Duração: 120 minutos
  • Classificação: 14 anos
Escrito por
Giselle Costa Rosa

Navegando nas águas do marketing digital, na gestão de mídias pagas e de conteúdo. Já escrevi críticas de filmes, séries, shows, peças de teatro para o sites Blah Cultural e Ultraverso. Agora, estou aqui em um novo projeto no site Flixlândia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Últimas

Procuram-se colaboradores
Procuram-se colaboradores
Artigos relacionados
Hedda crítica do filme Prime Video Festival do Rio 2025 Flixlândia
Críticas

[CRÍTICA] A ‘Hedda’ que desafia o espectador e a sociedade

Nia DaCosta, a diretora por trás de Candyman e As Marvels, voltou a trabalhar com...

A Memória do Cheiro das Coisas crítica do filme 2025 Flixlândia
Críticas

[CRÍTICA] ‘A Memória do Cheiro das Coisas’ e o preço a pagar por conflitos

À medida que envelhecemos, certas coisas vão se tornando mais difíceis. Memórias...

Balada de Um Jogador Netflix crítica do filme 2025 Flixlândia
Críticas

[CRÍTICA] Colin Farrell contra o caos em ‘Balada de Um Jogador’

Edward Berger chega com um peso nas costas — o peso do...

A Própria Carne crítica do filme Jovem Nerd 2025
Críticas

[CRÍTICA] ‘A Própria Carne’, um banho de sangue com sabor de podcast

“A Própria Carne” é mais do que apenas a estreia cinematográfica do...

Novembro crítica do filme 2025 Flixlândia
Críticas

[CRÍTICA] Para além do espetáculo: a brutalidade nua e crua de ‘Novembro’

Em um panorama cinematográfico cada vez mais pautado por fórmulas e narrativas...

Crítica do filme Springsteen - Salve-me do Desconhecido (2025)
Críticas

[CRÍTICA] ‘Springsteen: Salve-me do Desconhecido’: recorte da vida do ‘Boss’ mostra período de tempo prolífico e sombrio

A relação entre depressão e grandes obras artísticas é largamente documentada. Trabalhos...

Leia a crítica do filme 27 Noites, da Netflix (2025) - Flixlândia
Críticas

’27 Noites’, o drama argentino sobre autonomia e envelhecimento no mundo de hoje

A película argentina “27 Noites”, dirigida e estrelada por Daniel Hendler, inspira-se...

Crítica do filme Frankenstein, de Guillermo del Toro (2025) - Netflix - Flixlândia
Críticas

Guillermo del Toro recria o clássico ‘Frankenstein’ com poesia e tragédia

A nova adaptação de “Frankenstein” (2025), dirigida por Guillermo del Toro, surge...