Um dos temas mais recorrentes em filmes de terror são as relações familiares. Desde clássicos como Psicose passando por Sexta-Feira 13 e chegando aos tempos atuais em Hereditário e diversos outros exemplos, laços sanguíneos ou não assustam: são metáforas de prisões baseadas em toneladas de literatura acadêmica e factual Essa é a longa linhagem da qual o filme “Casamento Sangrento”(Ready or not no original)faz parte.
É o dia do matrimônio de Grace (Samara Weaving) com Daniel (Adam Brody), um dos herdeiros de uma fortuna familiar que data do século XIX. Porém, antes de consumar os votos, é preciso realizar uma tradição de família: sortear um jogo para que o novo integrante do clã seja aceito.
Entre as opções, existe a pueril brincadeira de esconde-esconde. A protagonista acha graça na brincadeira, até descobrir que seus novos parentes não querem bater 1, 2, 3, pique numa parede, e sim levá-la para um ritual, oferecendo sua vida a ninguém menos que o Tinhoso, responsável pela fortuna dos anfitriões.
O elenco de apoio tem suas personalidades bem delineadas: a arrivista que não deixaria de matar se isso significasse a pobreza; o familiar arrependido, os mais velhos e pragmáticos que querem apenas acabar com a situação como se fosse apenas mais um dia de trabalho.
A dinâmica entre eles e a vítima rende o gore do título, enquanto voam farpas das relações parentais que dependendo de quem assiste pode arrancar umas boas gargalhadas.
O filme arranha algumas discussões sobre luta de classes e ricos tradicionais e emergentes, mas não se aprofunda muito. O diretor Tyler Gillet já tem alguma experiência misturando os gêneros terror e comédia com os últimos filmes da série Pânico e Abigail.
A película é redonda, mas talvez falte um pouco de ousadia. A oportunidade estava aí: uma promessa de franquia, sem muitas pretensões comerciais, era um convite ao experimentalismo e mais coragem.
No fim, “Casamento Sangrento” é um filme melhor que razoável, mais com possibilidades do que realizações. Ainda assim, vale conferir, de preferência com uma boa companhia para gargalhar junto a alguém que tenha um senso de humor um pouco torto.