
Foto: Vitrine Filmes / Divulgação
O cinema musical é um gênero que, por natureza, se entrega ao lúdico e ao emocional de forma exuberante. Poucos estilos cinematográficos têm a coragem de abandonar o realismo e transformar sentimentos em espetáculo. Com o filme “O Melhor Amigo”, Allan Deberton expande sua filmografia autoral e mergulha no musical romântico LGBTQIAP+, trazendo uma história que mistura paixões do passado, autodescoberta e muito ritmo.
Sinopse do filme O Melhor Amigo
Lucas (Vinicius Teixeira) é um arquiteto frustrado com seu relacionamento com Martin (Léo Bahia). Em busca de espairecimento, decide viajar sozinho para Canoa Quebrada, no Ceará, e acaba reencontrando Felipe (Gabriel Fuentes), uma antiga paixão da faculdade.
Esse reencontro leva Lucas a confrontar sentimentos não resolvidos e a se questionar sobre seu futuro e o que realmente deseja para sua vida amorosa. Entre encontros, desencontros e números musicais, “O Melhor Amigo” transforma essa jornada em um mergulho na emoção e na nostalgia de uma geração que cresceu ao som de hits dos anos 80 e 90.
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Crítica de O Melhor Amigo (2025)
A grande sacada de “O Melhor Amigo” está em abraçar a estilização do gênero musical para traduzir sentimentos que, em palavras, poderiam soar banais. Assim como em La La Land ou Amor, Sublime Amor, as canções não apenas complementam a narrativa, mas a expandem.
No entanto, diferente dos musicais clássicos hollywoodianos, Deberton opta por um caminho mais despretensioso, o que pode ser um acerto e um problema ao mesmo tempo. Se por um lado o filme transmite uma sensação de naturalidade e leveza, por outro, algumas sequências parecem subaproveitadas, sem a grandiosidade que o gênero permite.
Entre o realismo e o escapismo
O filme transita entre um registro realista e a fantasia cafona do musical. De um lado, Lucas é um personagem que precisa tomar decisões sobre seu futuro amoroso, o que gera momentos de introspecção. Do outro, o filme nos convida a um universo onde personagens espontaneamente cantam e dançam sem medo do ridículo.
Essa dualidade poderia ser mais bem trabalhada, pois há momentos em que a direção hesita entre se entregar ao exagero ou manter um tom mais contido. O resultado é um filme que, apesar de encantador, por vezes se segura demais, como se temesse ser cafona em sua plenitude.
Fotografia e ambientação como elementos narrativos
O Ceará não é apenas um cenário, mas um elemento essencial na história. As paisagens de Canoa Quebrada simbolizam liberdade e descobertas, refletindo o estado emocional dos personagens. O calor nordestino transparece na fotografia, com cores saturadas e um uso interessante da luz natural para transmitir sensações de desejo e melancolia.
No entanto, as cenas musicais poderiam ter um trabalho de câmera mais dinâmico. Diferente do que Baz Luhrmann fez em Moulin Rouge, onde a montagem e a cinematografia participam ativamente da coreografia, “O Melhor Amigo” muitas vezes posiciona a câmera de forma estática, tornando alguns números musicais menos imersivos.
Personagens carismáticos, mas…
A relação entre Lucas e Felipe tem uma química genuína, e Vinicius Teixeira e Gabriel Fuentes entregam atuações envolventes. No entanto, o protagonista é um tanto egocêntrico. Tudo gira ao redor de sua jornada emocional, enquanto os coadjuvantes existem apenas para impulsioná-lo.
O filme poderia ter investido mais no desenvolvimento dos coadjuvantes, especialmente porque traz figuras que representam a diversidade LGBTQIA+ de forma autêntica e vibrante. Mas, ao limitar a história à perspectiva de Lucas, o longa deixa de aprofundar essas trajetórias paralelas.
Trilha sonora como personagem
As músicas são, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. Canções icônicas dos anos 80 e 90, como “Melô do Piripipi” e “Conga Conga”, aparecem em momentos que elevam a narrativa, reforçando as emoções dos personagens.
A participação de Gretchen adiciona uma dose de humor e nostalgia, mas o filme poderia ousar mais na forma como incorpora a trilha sonora ao desenvolvimento da trama. As músicas são usadas como momentos de fuga e expressão, mas nem sempre fazem a história avançar.
A beleza do imprevisível
Diferente de muitas comédias românticas que terminam com resoluções definitivas, “O Melhor Amigo” opta por um desfecho aberto. Lucas e Felipe não têm um destino selado, e isso reflete a imprevisibilidade do amor e da vida. A escolha de não oferecer respostas fechadas é acertada e dá ao filme um tom mais autêntico e realista. O amor aqui não é sobre finais felizes clichês, mas sobre experiências e aprendizados.
Conclusão
“O Melhor Amigo” é um filme que celebra o amor, a música e a descoberta de si mesmo. Allan Deberton entrega uma obra charmosa e sensível, que se destaca pela sua abordagem despretensiosa do gênero musical e pela autenticidade de sua ambientação.
No entanto, o filme poderia se entregar ainda mais ao exagero do musical, investindo em coreografias mais ousadas e explorando melhor os personagens secundários. Ainda assim, é uma experiência deliciosa, que aquece o coração e reforça o talento de Deberton para contar histórias envolventes e emocionantes.
Se o cinema brasileiro pode se entregar à fantasia do musical, “O Melhor Amigo” é um belo passo nessa direção.
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Onde assistir ao filme O Melhor Amigo?
O filme estreou no dia 13 de março de 2025 nos cinemas.
Trailer de O Melhor Amigo (2025)
Elenco do filme O Melhor Amigo
- Claudia Ohana
- Gabriel Fuentes
- Vinicius Teixeira
- Gretchen
- Diego Montez
- Mateus Carrieri
- Leo Bahia
- Solange Teixeira
- Marta Aurélia
Ficha técnica de O Melhor Amigo (2025)
- Direção: Allan Deberton
- Roteiro: Otavio Chamorro, Raul Damasceno, Allan Deberton
- Gênero: comédia, romance
- País: Brasil
- Duração: 96 minutos
- Classificação: 16 anos