Quando a Netflix anunciou “Kakegurui: Bet”, adaptação canadense em live-action do aclamado mangá de Homura Kawamoto, muitos fãs reagiram com cautela. Afinal, adaptar animes para o formato ocidental é um terreno delicado — repleto de armadilhas criativas e expectativas altas.
Estreando nesta quinta-feira (15), “Kakegurui: Bet” chegou prometendo recriar o universo extravagante de Hyakkaou com nova roupagem, ambientado agora no internato St. Dominic’s, e sob direção de Simon Barry (Warrior Nun). O resultado? Um híbrido ousado entre suspense psicológico, drama adolescente e estética camp que dificilmente deixa alguém indiferente.
Sinopse da série Kakegurui: Bet (2025)
Em “Kakegurui: Bet”, acompanhamos Yumeko Jabami (vivida com intensidade por Miku Martineau), uma misteriosa aluna transferida para St. Dominic’s Prep, uma escola de elite onde status social é medido por vitórias em jogos de azar. Mas Yumeko não está ali apenas para se destacar. Impulsionada por uma busca pessoal por vingança, ela começa a desafiar o Conselho Estudantil — uma elite formada por herdeiros de magnatas, mafiosos e políticos —, tentando desenterrar os segredos que envolvem a morte de seus pais.
Ao longo de 10 episódios curtos, a série se desenrola como uma montanha-russa de estratégias, alianças, trapaças e reviravoltas — tudo conduzido sob a lógica cruel das apostas. A cada jogo, Yumeko se aproxima da verdade e também de seus limites.
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Crítica de Kakegurui: Bet, da Netflix
“Kakegurui: Bet” não esconde suas origens no mangá e no anime. A estética deliberadamente exagerada, os figurinos que lembram chefões de videogame e as atuações caricatas abraçam a teatralidade típica dos animes, mesmo que isso torne o tom da série um tanto errático para quem busca realismo. O roteiro se arrisca ao transpor para o ocidente uma lógica que, no original japonês, é sustentada por uma cultura diferente — e nem sempre essa transposição funciona.
Mas quem entra no jogo entende: o exagero é parte da proposta. E a própria cadência bizarra do inglês falado por personagens com jeitos de anime acaba se tornando hipnotizante.
Yumeko: entre carisma e obsessão
Miku Martineau entrega uma protagonista à altura do caos. Sua Yumeko é enigmática, impulsiva e magnética. A personagem se equilibra entre a diversão perigosa das apostas e o trauma profundo da perda dos pais.
Em “Kakegurui: Bet”, sua compulsão ganha um novo propósito: vingança. Ao contrário do anime, onde ela é movida apenas pela excitação do jogo, aqui há um arco emocional mais robusto. Essa escolha pode dividir fãs, mas oferece camadas que faltavam na versão original.
O jogo por poder é o jogo por sobrevivência
A estrutura da escola St. Dominic’s, com seu sistema de “house pets”, onde os derrotados se tornam literalmente servos dos vencedores, é um reflexo cru e distorcido das hierarquias sociais. As dinâmicas de dominação, humilhação e manipulação são abordadas com intensidade — ora beirando a crítica social, ora resvalando na gratuidade.
Ainda assim, é nos jogos que a série brilha. Cada aposta, ainda que nem sempre empolgante em termos técnicos, traz implicações emocionais e narrativas relevantes. Os jogos se tornam o motor da trama, não pela complexidade estratégica, mas pelas tensões que criam entre os personagens.
Romance, rivalidade e relações voláteis
Um dos pontos que diferenciam “Kakegurui: Bet” do material original é o foco nos relacionamentos. Yumeko tem aliados, como Ryan e Chad, que enriquecem a narrativa emocional — embora algumas subtramas, como a obsessão de Dori por Chad, escorreguem para o bizarro.
A rivalidade entre Yumeko e Kira, por outro lado, é um dos pontos altos da série. As duas protagonizam duelos carregados de tensão psicológica, vaidade e dor. No episódio final, essa relação evolui para um pacto inesperado, que dá fôlego à possível segunda temporada.
Nem tudo é vitória: problemas de ritmo e estética
Apesar de episódios curtos e ritmo acelerado, “Kakegurui: Bet” peca em alguns aspectos. O excesso de personagens e subtramas paralelas às vezes prejudica o foco narrativo. Certos elementos visuais — como o figurino ou efeitos de câmera — soam forçados, tentando replicar o anime sem a mesma fluidez. Além disso, a tentativa de inserir romance em excesso dilui a tensão dos jogos.
Há também escolhas questionáveis de direção, como o enquadramento sexualizado de personagens femininas, especialmente Yumeko. Embora isso dialogue com o estilo anime, pode soar deslocado e incômodo no live-action.
Conclusão
“Kakegurui: Bet” é uma aposta arriscada — e isso combina perfeitamente com sua protagonista. A série acerta ao traduzir o espírito ousado do anime para uma linguagem acessível ao público ocidental, mesmo que tropece ao tentar equilibrar estética, narrativa e fan service. Com personagens cativantes, reviravoltas envolventes e uma protagonista que domina a tela, a produção se destaca como uma adaptação imperfeita, mas intrigante.
Para quem busca fidelidade total ao mangá, a frustração é inevitável. Mas para os que topam entrar em um jogo onde nem tudo precisa fazer sentido, “Kakegurui: Bet” é diversão viciante com gosto de perigo — e talvez, de redenção.
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Onde assistir à série Kakegurui: Bet?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Kakegurui: Bet (2025)
Elenco de Kakegurui: Bet, da Netflix
- Miku Martineau
- Ayo Solanke
- Clara Alexandrova
- Hunter Cardinal
- Eve Edwards
- Aviva Mongillo
- Anwen O’Driscoll
- Emma Elle Paterson
- Ryan Sutherland
Ficha técnica da série Kakegurui: Bet
- Título original: Bet
- Criação: Homura Kawamoto, Tôru Naomura
- Gênero: drama, suspense, policial
- País: Canadá
- Temporada: 1
- Episódios: 10
- Classificação: 16 anos