Início » ‘Projeto OVNI’: a verdade está em jogo, não no céu

Ambientada nos anos 1980, em uma Polônia à beira do colapso político e social, “Projeto OVNI” surge como uma minissérie provocativa que promete suspense e mistério extraterrestre, mas entrega algo bem mais complexo — e, para alguns, decepcionante.

Com apenas quatro episódios, a produção polonesa da Netflix, criada por Kasper Bajon, recorre à ficção científica para explorar temas como autoritarismo, histeria coletiva, trauma e manipulação da informação. Mas será que essa ousadia narrativa se sustenta ou se perde em suas próprias ambições?

Frete grátis e rápido! Confira o festival de ofertas e promoções com até 80% OFF para tudo o que você precisa: TVs, celulares, livros, roupas, calçados e muito mais! Economize já com descontos imperdíveis!

Sinopse da série Projeto OVNI (2025)

Em meio ao regime comunista polonês e ao crescente clima de paranoia da Guerra Fria, uma suposta aparição de OVNIs em Truskasy, uma cidadezinha do interior, desperta o interesse do ex-apresentador de TV Jan Polgar e do excêntrico ufólogo Zbigniew Sokolik. Desacreditado e ridicularizado em rede nacional, Sokolik encontra um novo aliado em Jozef Kunik, um agricultor que afirma ter sido abduzido por criaturas alienígenas.

À medida que novas testemunhas surgem e evidências obscuras ganham destaque, o caso vira uma obsessão nacional — e uma ferramenta política. Entre hipnoses, conspirações e censura, o que parecia uma simples investigação sobre vida extraterrestre se transforma em uma alegoria sombria sobre como regimes fabricam narrativas para controlar a realidade.

Você também pode gostar disso:

+ ‘A Roda do Tempo’ (3×08): um final apressado que promete mais do que entrega

+ O espelho emocional de ‘A Enciclopédia de Istambul’

+ ‘O Conto da Aia’ (6×03): episódio revela o coração vulnerável da revolução

Crítica de Projeto OVNI, da Netflix

Apesar do título e da premissa chamativa, “Projeto OVNI” não é exatamente uma série sobre alienígenas. Ou melhor: não é só sobre alienígenas. Há poucos efeitos visuais, nenhuma aparição confirmada de vida extraterrestre e um forte foco no drama humano e nas engrenagens do poder.

Isso pode frustrar quem busca uma trama de ficção científica convencional. No entanto, ao assumir esse caminho, a série aposta em uma abordagem mais simbólica, onde os “aliens” são metáforas — seja para o medo do outro, seja para os delírios criados por uma sociedade à deriva.

O peso da paranoia: entre fatos e invenções

O ponto alto da série é sua ambientação. A recriação dos anos 1980 na Polônia é meticulosa, com figurinos, cenários e trilha sonora que evocam o clima sombrio e opressivo da época. A estética retrofuturista — com tons saturados, carros antigos e interferências analógicas — reforça o sentimento de desorientação.

Esse cenário serve como pano de fundo para uma história sobre a construção da mentira. Sokolik, movido pela dor do desaparecimento do irmão e pelo desejo de ser levado a sério, fabrica evidências e hipnotiza testemunhas, transformando a dor pessoal em farsa coletiva. O que começa como uma tentativa de provar uma teoria acaba alimentando uma máquina de manipulação institucionalizada. O resultado é devastador — não para a ciência, mas para a verdade.

Personagens com potencial, mas pouca profundidade

O elenco é competente, mas sofre com um roteiro irregular. Piotr Adamczyk, como Polgar, tem carisma suficiente para sustentar o protagonismo, enquanto Mateusz Kościukiewicz, como Sokolik, entrega uma performance contida — por vezes apagada — que não corresponde à intensidade que o papel exige.

Entre os coadjuvantes, destacam-se Maja Ostaszewska, que brilha mesmo com pouco tempo de tela, e Julia Kijowska, que injeta humanidade em um papel mal desenvolvido.

O maior problema está na quantidade de personagens e subtramas. Muitos arcos são iniciados sem serem resolvidos com consistência, e os diálogos às vezes tropeçam em uma tentativa forçada de soar enigmáticos. Há uma crítica evidente à mídia como cúmplice da opressão estatal, mas ela se dilui em meio a disputas pessoais e conflitos mal amarrados.

Metáforas políticas: o verdadeiro monstro é o regime

A principal virtude de Projeto OVNI está em sua camada política. Ao introduzir o “USO” (Utilitarian State Occupation ou Ocupação Utilitária do Estado, em português literal) como um regime autoritário imposto sob a justificativa de uma ameaça alienígena, a série ironiza a maneira como governos fabricam crises para suprimir liberdades civis. O uso da “ameaça alien” como cortina de fumaça para justificar a implementação de leis opressivas remete diretamente ao período de lei marcial real vivido na Polônia.

Nesse sentido, o roteiro acerta ao demonstrar como o medo pode ser instrumentalizado por autoridades — e como a verdade pode ser moldada não pelo que é, mas pelo que se acredita (ou é forçado a acreditar). A cena em que um político ordena a hipnose de uma testemunha para “confirmar” a versão oficial dos fatos é de um cinismo afiado e perturbador.

Uma série que exige mais do espectador

Projeto OVNI” não é fácil de assistir. O ritmo é lento, há momentos de dispersão narrativa e as reviravoltas nem sempre têm o impacto esperado. Mas é uma obra que convida à reflexão — sobre crença, dor, memória e poder.

A figura da jovem Sara, filha de uma policial, é emblemática nesse sentido: seus relatos de encontros com alienígenas podem ser fruto de trauma, imaginação ou de uma sensibilidade real à mentira coletiva que a cerca. Ela representa a infância roubada pela paranoia de uma sociedade em colapso — e talvez, quem sabe, a única verdade que nos resta.

Acompanhe o Flixlândia no Google Notícias e fique por dentro do mundo dos filmes e séries do streaming

Conclusão

Projeto OVNI” é menos uma série sobre vida fora da Terra e mais um retrato incômodo sobre o que fazemos com a verdade quando ela já não nos serve. Com direção sensível, produção caprichada e uma atmosfera única, a série polonesa da Netflix acerta ao propor uma ficção política disfarçada de mistério ufológico — mesmo que tropece em personagens pouco envolventes e em um ritmo desigual.

Para quem busca uma ficção cerebral, carregada de simbolismo e contexto histórico, trata-se de uma experiência instigante. Mas se você espera naves, abduções e revelações alienígenas… melhor procurar em outro lugar.

Siga o Flixlândia nas redes sociais

Instagram

Twitter

TikTok

YouTube

Onde assistir à série Projeto OVNI?

A série está disponível para assistir na Netflix.

Trailer de Projeto OVNI (2025)

Elenco de Projeto OVNI, da Netflix

  • Piotr Adamczyk
  • Mateusz Kościukiewicz
  • Maja Ostaszewska
  • Julia Kijowska
  • Adam Woronowicz
  • Stanisław Pąk
  • Marianna Zydek

Ficha técnica da série Projeto OVNI

  • Título original: Projekt UFO
  • Criação: Kasper Bajon
  • Gênero: drama, ficção científica
  • País: Polônia
  • Temporada: 1
  • Episódios: 4
  • Classificação: 14 anos

Sobre o autor

1 thought on “‘Projeto OVNI’: a verdade está em jogo, não no céu

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *