David Siegel e Scott McGehee estão entre os cineastas americanos mais humanos e envolventes em atividade hoje. Conhecidos por uma abordagem discreta e letrada em seus trabalhos — como em “Palavras de Amor” (2005) ou no elogiado “Pelos Olhos de Maisie” (2012) —, eles nos entregam agora “O Amigo” (The Friend), uma adaptação do romance bestseller de Sigrid Nunez.
O filme, estrelado por Naomi Watts e Bill Murray, navega por temas pesados como o luto e o suicídio, mas encontra sua âncora e seu coração na forma de um improvável terapeuta de quatro patas: um Dogue Alemão gigante. É uma jornada que, embora possa parecer discreta, acerta em cheio nas emoções mais profundas, evitando o sentimentalismo barato, mas abraçando o calor de uma conexão inusitada.
Sinopse
A história é centrada em Iris (Naomi Watts), uma escritora reclusa de meia-idade que vive sozinha em um pequeno e charmoso apartamento em Nova York, preferindo, inclusive, gatos. Sua rotina independente é abruptamente interrompida pelo suicídio de seu melhor amigo, mentor e ex-amante, o aclamado escritor Walter (Bill Murray). No meio de uma “tropa” de ex-esposas, amantes e uma filha adulta recém-descoberta que o luto de Walter reúne, Iris se vê confrontada com um fardo inesperado: o Dogue Alemão de 80 quilos do falecido amigo, chamado Apollo.
Relutantemente, e por um motivo que ela mal consegue entender, ela assume o cuidado do cão em seu apartamento com regras estritas contra animais. O filme se desenrola a partir desse conflito, mostrando o luto reprimido de Iris e o do cão, que não come, não brinca e ocupa toda a sua cama, transformando o drama em uma terna e inesperada história de cura mútua e companheirismo.
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Crítica
“O Amigo” é um filme que poderia ter seguido por muitos caminhos, inclusive a comédia escrachada, dada a premissa de um dogão gigante em um apê minúsculo. No entanto, Siegel e McGehee optam por uma delicadeza que é a marca registrada de seu cinema. A obra é, essencialmente, um drama de câmara sobre a dor, a memória e a descoberta de uma nova forma de amar, com Nova York servindo de pano de fundo elegante e literário.
O coração do filme bate no ritmo da atuação sublime e contida de Naomi Watts. Longe de projetos grandiosos, ela brilha aqui em um papel sutil, mas exigente. Iris está sobrecarregada — com a perda, com a dificuldade de seu novo romance e com um estudante que insiste em mostrar-lhe sua ficção erótica. Watts entrega uma performance natural e convincente, especialmente nas cenas com Apollo. É nesses momentos de silêncio e “entendimento canino” que a atriz se destaca, transformando o cão em seu travesseiro gigante e descobrindo o valor do amor incondicional.
Mas o verdadeiro “ladrão de cenas” é Apollo, interpretado pelo espetacular Dogue Alemão Bing. Com seus olhos tristes e focinho franzido, ele expressa o luto canino de uma forma incrivelmente impressionante, sem precisar de falas. Bing proporciona a melhor atuação de um animal na tela desde Messi em Anatomia de Uma Queda, fazendo-nos sentir a dor da perda e o lento processo de cura. A dupla Watts e Bing estabelece uma “sintonia de almas” irresistível.

O legado do ‘grande homem’ e a tonalidade literária
O filme mergulha no luto de Iris, que lida com o legado de Walter (Bill Murray). Embora Murray apareça em poucas e valiosas flashbacks, ele consegue transmitir a aura de um “gigante literário” carismático e turbulento, com seus múltiplos pecados (incluindo casos com alunas mais jovens).
No entanto, a crítica aponta para um foco excessivo no luto feminino em torno de um homem, já que todas as mulheres parecem estar sempre discutindo Walter. O filme, em alguns momentos, não passa no Teste de Bechdel e se sente um pouco “retrô”, com essa abordagem do “mito do Grande Homem”.
Além disso, a obra é extremamente self-consciously literária — com citações a Samuel Beckett e flashbacks de leituras. Embora isso crie uma atmosfera envolvente para quem gosta de filmes sobre “intelectuais de Manhattan de tweed e mesclas de lã”, como os de Woody Allen ou Nicole Holofcener, alguns diálogos citados de Walter soam um tanto banais para um suposto gênio literário.
Drama humano e humor sutil
“O Amigo” é uma mistura tonal que funciona bem na maior parte do tempo: é em parte um emaranhado de relacionamentos, em parte uma comédia de humor negro sobre a logística do luto, e em parte uma reflexão sobre a moralidade de um homem mais velho. A narrativa consegue equilibrar a melancolia da perda e o humor sutil, como nas interações de Iris com o síndico, que insiste em despejá-la, mas ama cães secretamente.
Apesar de alguns personagens secundários parecerem caricaturas (como a ex-esposa rica e narcisista), a história se sustenta na dinâmica entre Iris e Apollo. O filme transforma a premissa de que “ninguém quer ler uma história sobre uma mulher comum” em um refúgio acolhedor, mostrando que a jornada de uma escritora em crise e seu dogão enorme é digna de toda a nossa atenção.
Conclusão
“O Amigo” é uma adaptação sincera e comovente que não se furta a explorar o luto em suas camadas mais profundas, mas que, no final das contas, é uma ode ao companheirismo incondicional. Embora o ritmo possa ser lento, e o filme pareça se arrastar com múltiplos “finais falsos”, ele nos recompensa com uma história quente, humana e inesquecível.
É um drama que ressoará profundamente com qualquer um que já amou um animal de estimação ou que tenha lidado com a complexidade da perda. Naomi Watts e o “modelo” Bing entregam uma das mais belas e autênticas histórias de amor e cura dos últimos tempos. Definitivamente, vale a pena assistir, especialmente se você gosta de cachorros e de um bom drama literário.
Onde assistir ao filme O Amigo?
O filme está disponível no Prime Video.
Trailer de O Amigo (2025)
Elenco do filme O Amigo
- Naomi Watts
- Bill Murray
- Sarah Pidgeon
- Carla Gugino
- Constance Wu
- Noma Dumezweni
- Ann Dowd
- Felix Solis
- Owen Teague
- Josh Pais
- Tom McCarthy
- Bruce Norris
- Bing

















