Confesso: sou a primeira a revirar os olhos quando vejo mais um drama sobre influenciadores digitais. Parece que o assunto já deu o que tinha que dar, sempre caindo no clichê de que “tudo é falso” e a internet é o mal. Mas, para minha surpresa, a série sul-africana da Netflix, “Má Influencer” (2025), criada por Kudi Maradzika e dirigida por Ari Kruger e Keitumetse Qhali, conseguiu subverter essa expectativa.
Com apenas sete episódios de cerca de 50 minutos, este thriller dramático é muito mais do que parece. Não é só mais uma bronca moral; é um empolgante caper criminal com um coração surpreendentemente grande e um senso de humor afiado.
Sinopse
A trama gira em torno de BK (Jo-Anne Reyneke), uma mãe solo que mal consegue pagar as contas e que tem um filho, Leo, no espectro autista, precisando de cuidados e uma educação que ela não tem como bancar. Afogada em dívidas com agiotas e tentando sustentar um negócio de fachada vendendo bolsas de grife falsificadas, BK se vê sem saída.
O resgate (ou a perdição) chega na forma de Pinky (Cindy Mahlangu), uma jovem e ambiciosa influenciadora digital. As duas se unem em um esquema de alto risco: BK fabrica as bolsas, e Pinky usa seu alcance nas redes para vendê-las com um lucro absurdo.
A parceria, no entanto, coloca as duas no radar de gângsteres perigosos e da polícia, mais especificamente do Capitão Themba (Thapelo Mokoena), um policial da Unidade de Crimes Organizados e Falsificação que, ironicamente, se torna um interesse romântico de BK. À medida que o dinheiro entra, o risco aumenta exponencialmente, forçando BK e Pinky a confrontarem o preço da ambição e o custo de manter as aparências.
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Crítica
O que realmente destaca Má Influencer não é a novidade do crime de falsificação — afinal, isso é arroz com feijão no audiovisual —, mas a forma como ele é encaixado na cultura de influência digital. A série capta perfeitamente a obsessão atual por luxo, likes e uma vida de aparências.
O golpe das bolsas falsas, vendido através de DMs e stories, é um reflexo cru do mercado digital não regulamentado, onde a linha entre o autêntico e a ilusão é irremediavelmente borrada. No entanto, em seu ímpeto de querer contar uma história grandiosa, a série por vezes desliza.
Em vez de focar puramente na crítica social e na sátira da cultura influencer, a trama mergulha de cabeça no submundo do crime organizado. Essa guinada, que a transforma em uma espécie de Breaking Bad sul-africano, é eletrizante, mas tira um pouco da nuance que o elemento das redes sociais trazia. Por mais que a tensão seja constante e te mantenha grudado no sofá, senti que o foco no crime hard ofusca a discussão mais sutil sobre consumo e o papel das mulheres nesse ciclo.

✨ Estilo, humor e emoção em contraste
Um dos grandes trunfos da série é sua produção impecável. Visualmente, Má Influencer é um deleite. A direção de arte e a fotografia exploram o contraste de maneira poderosa: de um lado, o brilho glossy das bolsas, dos filtros do Instagram e da ostentação de Joanesburgo; do outro, a dureza crua das ruas e o desespero de BK. A série não é só estilosa; ela usa o visual para reforçar a dualidade do mundo online, onde a beleza esconde a podridão.
Outro ponto que me ganhou foi o humor. O roteiro consegue balancear o drama de alto risco com momentos de comédia genuinamente engraçados. O contraste peixe fora d’água funciona nos dois sentidos: BK, a mãe pé-no-chão, precisa fingir que entende de hashtags e ângulos, enquanto Pinky, a rainha do digital, é jogada no meio do submundo sul-africano. As tiradas e a comédia física de Pinky em situações de perigo enriquecem a narrativa sem nunca banalizá-la.
💖 A dupla central e a humanidade por trás do caos
O verdadeiro coração da série reside nas atuações e no relacionamento entre BK e Pinky. Jo-Anne Reyneke entrega uma performance firme e sensível como BK. Ela não é uma santa, mas uma mãe determinada e, acima de tudo, humana.
Seu desespero em proteger Leo (que tem autismo) e dar a ele uma vida digna é palpável e completamente relacionável. Cindy Mahlangu é a contraparte ideal, personificando a ambição e a fachada materialista da influencer, mas mostrando uma vulnerabilidade que desmente sua pose digital.
A dinâmica das duas é orgânica, cheia de amor, frustração e lealdade. O roteiro faz um excelente trabalho ao usar o relacionamento delas — e a inclusão de Leo — como âncora emocional. É essa humanidade, o fato de torcermos por personagens que estão fazendo escolhas terríveis por medo e esperança (e não por pura maldade), que eleva a série de um simples drama criminal para algo mais profundo.
Conclusão
Má Influencer é um drama sul-africano eletrizante, visualmente atraente e com um toque de sátira social que você não pode perder. Ele funciona não por ser revolucionário no tema de “influenciadores”, mas por usá-lo como o ponto de partida para uma história de crime bem contada, recheada de ótimas performances (principalmente de Jo-Anne Reyneke e Cindy Mahlangu) e momentos de genuína emoção.
Sim, há falhas menores, como alguns pontos de virada previsíveis ou um final de temporada que deixa mais pontas soltas do que gostaríamos. Mas no geral, o roteiro, a direção e a qualidade de produção impressionam. A série nos faz questionar até onde iríamos por dinheiro, validação e a chance de uma vida melhor. É entretenimento de alto nível que, de quebra, ainda entrega uma mensagem potente: o sucesso sem integridade sempre exige um preço.
Onde assistir à série Má Influencer?
A série está disponível na Netflix.
Trailer de Má Influencer (2025)
Elenco de Má Influencer, da Netflix
- Jo-Anne Reyneke
- Cindy Mahlangu
- Thapelo Mokoena
- Vincent Mahlape-Sekuba
- Mpilo Shabalala
- Modise Motaung
- Kamohelo Pule
- Zozibini Tunzi
- Mandisa Nduna
- Emmanuel Castis
















